Certa vez li que devíamos, todos os dias, pensar no que aprendemos de novo. Acho exagero, todos os dias. Mas, pensando nisso resolvi lembrar-me do que aprendi no ano que passou – ainda que ano com um certo atrasado, já que Janeiro já está acabando.
Engraçado como, ao sentar para escrever tudo o que aprendi neste ano que já se encerrou, tudo parece tão longe e dissipado. Não que eu não tenho aprendido nada; mas é que olhando para quem eu sou hoje eu vejo a concretização de dezenas de coisas que têm se delineado há tanto tempo, e outras que eu não reconheceria em nenhum olhar ao passado. Coisas que parece que surgiram em mim e me resolveram, serviram para cobrir as brechas que existem em mim. Coisas que ampliaram os meus limites.
Dando uma primeira olhada, rápida, tive a impressão que no ano que se encerrou aprendi apenas a esperar e esperar e a esperar. Mas foi mais que isso. Aprendi, sim, a esperar. Mas essa espera me ensinou também a fazer escolhas e tomar decisões. Essa espera me ensinou a, novamente, olhar dentro de mim e respeitar o que vejo, mesmo que não concorde.
E o que vi foi uma pessoa que amadureceu mas que ainda sofre e chora pelos mesmos motivos e que já há muito sabe que algumas dores são para sempre. Uma pessoa que aprendeu artimanhas para disfarçar a dor, e com isso aprendeu a cozinhar melhor do que em todos os anos anteriores.
Aprendi como é não estar rodeado por pessoas que já conhecem o seu trabalho e sabem do que você é capaz. Isso faz com que os caminhos sejam mais difíceis, mais tortuosos e repletos de nãos. Mas também aprendi que isso faz com que fique mais claro em nossa mente o que queremos.
Aprendi que não é fácil ir em busca dos sonhos, principalmente quando não se acredita muito neles. Mas que, quando a gente começa a acreditar é preciso bater o pé e até arrumar algumas confusões pra manter-se em busca dele. E que às vezes é preciso abrir mão de certas coisas e fazer escolhas difíceis, principalmente quando se está mais acostumado a viver o presente do que sonhar com o futuro.
Aprendi a sonhar com o futuro sem deixar de viver o presente.
Aprendi que fazer planos é um belo de um passatempo e muitas vezes não passa disso. Mas que é necessário fazê-lo, desde que se tenha em mente que não são círculos fechados e sem possibilidade de alteração. É preciso fazer projetos, e é preciso ser suficientemente corajoso para abrir mão deles e estar disposto a alterá-los.
Aprendi muito com a indecisão alheia, de como é preciso respeitar não só os próprios limites, mas também os dos outros. Aprendi que quando a gente menos espera as coisas surpreendem-nos. Para o bem e para o mal. E que, na verdade, é preciso estar distraído e esperando absolutamente nada. Porque quando eu esperava convites, vieram silêncios. Quando eu esperava silêncio, vieram palavras. Quando eu esperava um sim, veio um não. Quando eu esperava respostas, vieram perguntas. Quando eu tinha certeza, construíram-se dúvidas. E quando eu não esperava nada, vieram frases, explicações, propostas, elogios, diversão.
Aprendi que às vezes é preciso seguir os próprios conselhos. E nunca o ‘faça o que eu digo, não o que eu faço’ fez tanto sentido.
Aprendi que às vezes é preciso silenciar, mesmo quando queremos anunciar aos quatro ventos o que enche o nosso coração.
Aprendi que às vezes é preciso seguir o nosso coração mesmo quando a razão – e todo mundo que esta em volta – diz o contrário. Aprendi que isso não é fácil. Aprendi que isso dói, mas que a dor as vezes é melhor que a dúvida.
Aprendi a perdoar.
Aprendi a não esperar que os outros sejam o que a gente quer que eles sejam.
Aprendi que não se pode controlar o que se sente. E aprendi muito sobre mim, sobre meus sentimentos. Percebi que de vez em quando achamos que um sentimento está enterrado, mas então nos percebemos caindo nas mesmas armadilhas preparadas por nós mesmos.
Aprendi que é preciso se deixar pegar pelas armadilhas. Mas que não podemos nos aprisionar permanentemente nelas.
Aprendi que de vez em quando um sentimento acaba, mas não tem nada pra colocar no lugar então a gente faz de conta que ele continua, como se a gente emprestasse alguma coisa pra alguém até que o verdadeiro dono venha e assuma.
Aprendi que amizades são muito mais importantes do que qualquer coisa. E que algumas são eternas, mesmo com a distância, mesmo com a ausência, mesmo com as diferenças.
Aprendi que esquecer problemas não os resolve; mas os aumenta.
Aprendi a tomar banho de chuva como uma forma de voltar à infância perdida e nesse banho encontrar um silêncio confortante, quase um vazio.
Aprendi que ser responsável por outras pessoas não significa que você tem que deixar de se responsabilizar por si mesmo. E que é difícil, mas necessário, equilibrar as duas coisas.
Aprendi a viver com saudade. Com muita saudade. E a me deixar quieta, em silencio, sofrendo, sempre que necessário. E depois levantar. E continuar.
Aprendi que não sou mais criança, mas que ainda me comporto como tal. E que é preciso mudar e assumir minha vida, e não ficar tentando e esperando que os outros o façam por mim.
Aprendi que tenho o direito de ser feliz. E nos últimos dias me vejo me reacostumando a isso e ainda me soa um pouco estranho, dizer assim, que apesar de tudo eu sou feliz. Mas é em busca desta felicidade que darei meus próximos passos.