terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Parabéns, Priscila!

Amigos são os irmãos que a vida nos permite escolher.


Nunca concordei com essa frase. Amigos não são escolhas, são construções. Os grandes amigos, aqueles que realmente se tornam nossos irmãos, não nos foram dados de graça pela vida. Essas amizades são formadas ao longo de idas e vindas, encontros e desencontros, descaminhos. Horas e horas estudando junto, desesperando juntos, não fazendo nada juntos. Elas são resultados de lágrimas e sorrisos compartilhados, de raiva suportada, de tédio tolerado em conjunto. De loucuras e momentos centrados. De ombros amigos e também de palavras duras que devem ser ouvidas. De chacoalhões.


Os melhores amigos estão conosco nos piores momentos. Nos sustentam quando o mundo parece desabar. Nos estendem a mão quando estamos caindo. Mas também estão nos melhores momentos, querendo saber das novidades, se divertem com nossas (novas) paixões, se alegram com nossas conquistas. Acho que isso é mais raro, porque não é todo mundo que consegue lidar com a felicidade do outro, ainda que na nossa vida esteja tudo uma confusão.
Nós sempre nos lembramos dos grandes momentos. Como num dia de surto que a gente chora desesperada e o amigo tá lá, nos olhando com um olhar de compreensão. Ou de um banho de piscina noturno, um porre, uma festa, uma dor que doía muito e que ele consola. Mas uma amizade verdadeira é feita dos milhares de pequenos momentos que vão se colocando entre esses grandes acontecimentos e que o possibilitam. É aquela pessoa que tá com você todos os dias, mesmo a distancia e mesmo que no fundo vocês se falem pouquíssimas vezes.

A Priscila é assim. Quando o mundo parece abrir abaixo dos seus pés ela está lá pra servir de base; mas quando parece que tudo está dando certo ela está comemorando junto, se alegrando, se divertido mesmo que longe. Ela é doce e forte, uma combinação difícil de encontrar nas pessoas. Defende o que acredita e luta por um mundo melhor, com a plena convicção de que isso nunca é uma utopia: trata-se sim de uma batalha difícil, mas necessária. Tem um brilho no olhar e uma passionalidade que encanta, e às vezes preocupa também. Às vezes, quando eu não estou me entendendo, é ela que me explica. Quando eu estou racionalizando ela me diz que o importante é sentir; quando eu disfarço ela me mostra que isso não é necessário.

Dizer que ontem ela completou mais uma primavera é a expressão perfeita porque ela é como a própria primavera: cheia de cores, perfumes, encantamento, animação. E eu sempre me alegro muito por ter essa pessoa tão maravilhosa perto de mim. Por isso, desejar qualquer coisa seria pouco porque transformar em palavras faz com que isso perca um pouco do sentido e da intensidade que esse desejo contém. Mas ainda assim é necessária uma tentativa e por isso vai o mais comum dos desejos: desejo absolutamente tudo de bom, sempre. E desejo também estar com ela para compartilhar todas as suas alegrias e, como eu sei que a vida dá umas rasteiras meio sem graça, também desejo estar por perto pra tentar ajudar a levantar.

Eu queria ter te dito isso ontem, mas foi um dia meio confuso então nem consegui sentar pra fazer isso; mas não esquece que eu te amo muito, amiga, e tenho muito a agradecer por tudo!!! Parabéns, muitas felicidades e tudo de bom, sempre!

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Caos

Eu não sei explicar. E isso é o mais complicado, porque eu sempre explico tudo, ou tento explicar, ou racionalizo, não importa. Sempre há respostas, ainda que falsas. Mas com ele... com ele é tudo uma confusão.


A verdade é que ele entrou na minha vida como um vendaval e bagunçou todas as minhas certezas, jogou longe minhas convicções, desmanchou minhas ilusões, rompeu algumas das estruturas que me sustentavam, quebrou dezenas de racionalizações.


E aí ele se foi. E eu fiquei sentada, olhando praquele caos todo, tentando imaginar por onde me reconstruir. Mas, e esse foi o maior problema, cada peça que tentava por no lugar eu percebia que estava melhor agora do que antes. E que eu era mais eu no meio daquela bagunça que ele deixou em mim.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Olhou em volta, respirou fundo e pela primeira vez em muito tempo sentiu uma felicidade que pensou não ser mais capaz de sentir. Era uma felicidade leve, doce. Não sabia que tipo de encantamento que era aquele que ela sentia, mas tinha uma vontade imensa de agradecer por estar ali e sentido-se daquele jeito. Não a um Deus, porque não acreditava nisso; tampouco acreditava no Destino. Mas estar ali a fazia querer agradecer à vida, ao mundo, a ela mesma, aos caminhos que de uma forma ou de outra permitiam que ela sentisse aquilo mais uma vez.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Programação da semana

Trabalhar, repetir os mesmos erros, reclamar dos mesmos acontecimentos. Se sobrar tempo, se indignar com as mesmas questões de sempre.




Prometer as mesmas promessas, até aquelas que já se sabe que não há tempo para cumprir.




Distribuir indiretas que serão displicentemente ignoradas.




Fantasiar que simples conversas são paqueras veladas.




Sonhar antes de dormir, depois dormir e ter sonhos confusos, acordar meio perdida sem saber o que veio antes e o que veio depois do sono.




Desejar e esboçar mudanças. Temê-las secretamente.




Planejar cuidadosamente cada segundo, só para ver a semana se esvaindo e todo o planejamento ir junto com ela.




Esperar novos ventos, novos olhares, novos encontros. Desejar ser surpreendida.




Enfim, aguardar ansiosamente o próximo final de semana, cheia de esperanças e com a certeza de que é nele que vão ocorrer todas as mudanças que são necessárias, só pra ver que o final de semana acaba muito mais rapidamente do que as esperanças.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Tem gente que é poesia...

Tem uma frase do Manoel de Barros que diz que "Tem gente que nasce poesia...". É bem verdade. Tem gente que é poesia: leve, intensa, toca a gente na alma. E que cada encontro é como uma nova leitura, a gente descobre uma coisa nova, que também toca, também emociona.


Outras pessoas são como uma crônica. Tão cotidianas, tão perto da gente e que encantam justamente porque vêem as mesmas coisas que nós, mas com um olhar totalmente diferente. Ora é um olhar mais engraçado, ora reflexivo, mas sempre emocionante. Fazem com que a gente encare o cotidiano de uma forma muito mais fácil.


Há também aquelas pessoas que são como livros inteiros. É cheio de vais e vens, encontros e desencontros, e no fim você acaba sabendo de tudo da vida dela. E o que mais agrada é que você sente também como se fosse um pouco da sua vida: cada história, cada momento, cada capítulo você se reconhece de alguma forma.

O único problema é que a vida é exatamente como a literatura: para encontrar boas poesias, boas crônicas e bons livros, temos que encarar muita literatura de péssima qualidade.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Intensidade

- Adoro a sua intensidade.


Não foi como um elogio que ela recebeu isso. Era a intenção dele, ela sabia, já tinha ouvido isso outras vezes e de pessoas menos interessantes, menos importantes que ele. Ela sabia também que os seus sorrisos, sua presença intempestiva, sua gargalhada solta, suas caretas constantes e tudo o que os outros sintetizavam como ‘intensidade’ era o que mais atraia tanto os amigos como os amores. Mas é que cada vez que ela ouvia isso soava mais como uma bofetada. Porque só ela sabia o quanto, dali de dentro, tudo isso soava falso.


E tudo o que ela queria era ser mais uma. Normal, simplesmente.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Procurar fazendo de conta que não procura. Sorrir descontroladamente, ainda de longe, pensando no que se quer falar. Coração num salto, segura, conversa tentando perceber sinais. Pensar em como se comportar. Ou no que falar. Tchau de longe, trocas de olhares discretos. Será? Não sei. Impressão minha? Passar despercebida. Ver, saber que também viu, mas fazer de conta que estava muito interessada numa outra conversa qualquer. Coisas bobas que encantam. Um desaforo e um olhar de desafio. Uma resposta e uma cara fazendo de conta que tá brava, com um sorriso que denuncia o contrário, um sorriso que diz “ok, nessa você venceu”. Um olhar de cumplicidade. Dúvida.


A possibilidade, enfim.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Escrevo

Escrever é meu jeito de (me) entender. Escrevo pra mexer no que tá aqui dentro, transformar em uma coisa nova. Ou às vezes naquela mesma coisa velha, batida, já esgarçada, mas que é ainda necessária, porque não entendi de verdade. É preciso, quando a gente não entende, repetir. É preciso mais do mesmo, olhar por outro ângulo, de cabeça pra baixo, voltar pro jeito certo. E perceber que não existe jeito certo e mesmo assim continuar procurando um jeito qualquer que seja mais fácil, ou simples, ou possível.

Escrevo porque sinto demais. Sinto tanta coisa, tanta bagunça, me perco dentro de mim e minha mania de teorizar exige que eu explique. Que tente, ao menos. Transformo essa bagunça em algumas palavras, em frases, e aí as frases ganham uma vida que não é minha. E no fim percebo uma estória que parece a minha, mas já não é. Uma frase, perdida no meio de todas as outras, aquela sou eu, é o que me define, o que me explica. Às vezes ela se encaixa perfeitamente entre as outras e nem me lembro exatamente quem é ela. Outras vezes tenho a impressão que ela ficou perdida, confusa, deslocada, mas disfarçou bem e só eu percebo que ela ta lá, destoando, me entregando.

Escrevo porque uma frase fica pulsando aqui dentro. E então, se eu deixo ela passar, é como se eu me perdesse um pouco pelo caminho. Escrevo porque não ajo. Porque na hora de fazer, eu teorizo, explico, crio. E resolvo, criando uma estória que não é minha. Ou é?

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Emoções

Emoções que se misturam se confundem e se intensificam assim, de uma hora pra outra. Saudade. Apertada, doída, vontade de um colo e de uma voz calma dizendo que tudo vai dar certo, dizendo isso de uma maneira que era impossível não acreditar. Manter as esperanças mesmo sem essa voz, ou talvez por causa dessa voz que um dia foi ouvida e que ficou gravada aqui dentro. Medo de não dar certo, coragem pra enfrentar o medo. Empolgação por imaginar que pode dar certo e ir em busca disso, ansiedade, com vontade de chegar e resolver logo. Uma tristeza que fica escondida lá dentro acenando de longe só pra dizer que nunca vai se perder de mim, uma alegria que ainda não sabe muito bem como se portar. Uma falta que me completa. Vontade de rir e chorar junto.

Respirar fundo e enfrentar tudo. Suportar tudo. Viver tudo intensamente.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Da série: textos perdidos (II)

Nosso romance durou 183 dias. Foram duas estações, sete posts em um blog qualquer, pelo menos 132 twetts, 27 indiretas por frases do MSN, um número incontável de músicas escutadas que traziam lembranças, outro tanto número de momentos sonhados, uma solicitação, desencontros e confusões. Sem contar, é claro, aquelas coisas que a gente acaba não contando.

Começou na primavera, como deve começar qualquer romance que não vai durar. Enganamo-nos com as cores, as flores, as borboletas e o clima ameno que chega pra tirar do caminho todos os fantasmas do inverno. Deixamo-nos levar com toda aquela falsa alegria que paira no ar. Mas como outra flor qualquer esse tipo de amor não sobrevive ao abafado e chuvoso verão, com a claridade que insiste em revelar todas as verdades ocultas e disfarçadas.

Foi tarde, visto que nem devia ter chegado. Mas deixou um espaço vazio na cama, outro no coração, uma vontade de toque constante, a falta do gosto de um beijo e um jazz pra animar as noites de fossa. E deixou, principalmente, a vontade de mais um amor. Ou da próxima primavera.

domingo, 17 de julho de 2011

Eros e Psique

Fernando Pessoa, para nos lembrar que às vezes é preciso travar grandes batalhas para descobrir aquilo que está dentro de nós.

Eros e Psique

Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.

Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.

A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.

Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.

Mas cada um cumpre o Destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.

E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,

E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

No final do ano passado, eu coloquei um quadrinho da Mafalda no qual ela dizia que tinhamos que receber o ano novo com otimismo e dizer "Olá ano-novo, que alegria tê-lo com a gente" e, no quadrinho seguinte, ela continua: "E vamos ver se em Julho podemos dizer a mesma coisa, viu?"
Bom, chegou julho. E o fato é que posso, sim, dizer que esse ano está sendo muito bom.

Esse ano está passando incrivelmente rápido. Mas posso dizer, com toda a certeza: é muito mais do que so far so good. Está sendo um ano realmente bom.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Notas sobre o Kit Gay

Tem um vídeo no perfil de uns amigos que é superbonitinho, bastante animado e colorido. O único problema é quando a gente começa a prestar atenção no que ele diz. Aliás, antes disso: o próprio nome do vídeo já é complicado, uma vez que ao denominar de “Kit Gay” já demonstra o total desconhecimento do Kit do Projeto Escola sem Homofobia. Na descrição ainda tá escrito algo como ‘quem fez isso é um gênio’, num elogio exagerado a um vídeo que, embora bastante engraçadinho, não fala quase nada de útil ou verdadeiro.


O vídeo começa dizendo que esse kit irá tratar como normal coisas absurdas. O que é absurdo? Para mim, absurdo é a homofobia. É você julgar uma pessoa, ou pior, agredir uma pessoa, simplesmente porque ela é diferente de você nas escolhas afetivas. É você reduzir uma pessoa a um único aspecto de sua vida privada – repito, de sua vida privada, coisa que a gente não tem absolutamente nada a ver.


Ele continua dizendo que a criança que tá em idade escolar não tem o caráter pronto e nem a consciência definida. Bom, apesar de usar termos de uma forma errônea, eu entendo o que o autor quis dizer e concordo com essa afirmação. E por isso defendo o Kit Contra a Homofobia: educar as crianças a respeitar a diferença é a melhor forma de criar sujeitos íntegros, conscientes, humanos. Afinal, não é essa a função da escola? Educar? Humanizar, acima de tudo?


"Será que a distribuição desse Kit tem fundamento?" Pergunta o autor. Tem. Tem um monte deles, respaldados pelo Conselho Federal de Psicologia, sem contar uma série de órgãos/grupos de defesa de Direitos Humanos. E sabem por que não tem folhetos distribuídos contra o bullying ou contra o racismo? Porque não matam eles. Porque eles não abandonam a escola. Porque apesar do preconceito – que tem, sim, que ser duramente combatido! – eles permanecem na escola, eles são defendidos por professores/coordenadores, eles não são responsabilizados pela violência sofrida. Eles são ouvidos. Concordo que a educação deveria ser muito melhor, que deve ser feito uma série de ajustes, de melhoras. Uma delas pode ser inclusive a adoção do kit contra homofobia nas escolas. Não porque existe uma campanha midiática para angariar votos. Até porque, numa sociedade machista, preconceituosa e, em muitos aspectos, arcaica como a nossa, nada melhor para angariar votos do que manter as coisas como estão; mas porque ensinar a sermos pessoas melhores deve ser o objetivo da escola.


O Kit contra a Homofobia na Escola não é um 'kit que tenta mandar o teu filho para o outro lado’. Aliás, que outro lado? Isso é uma guerra? Não! Não é uma guerra de homossexuais x heterossexuais, Travestis x Não travestis; é a tentativa de construção de uma sociedade mais justa! E o problema não é chamar alguém de gay. É você usar isso como forma de diminuir os outros, de discriminar. Isso é a homofobia. E nesse sentido, o maior preconceito é dizer algo do tipo ‘eu não tenho nada contra gay, eu até tenho um amigo que é viado e não tenho nada contra ele. Só não quero que meu filho também seja’. Isso é o novo ‘ele é um negro com alma branca’. É dizer ‘ele é gay mas é boa gente’. É o "mas" que está muito mal colocado, é você entender que a princípio o homossexual ou travesti é um sujeito que deva ser desprezado, mas existem alguns poucos que são uma exceção. E isso é errado!


Eu concordo plenamente que não é porque minha praia é futebol que eu vou esculachar quem gosta de boneca, não é porque eu sou hetero que vou bater quem é homo. E é isso que o Kit tenta explicar. Nenhum homossexual ou grupo de defesa de Direitos Humanos quer ‘converter’ as pessoas, nenhum projeto contra a homofobia quer criar homossexuais, quer apenas mostrar que existem pessoas diferentes que devem ser respeitadas. RESPEITADAS, repito e enfatizo. O vídeo também cita Hitler que, aliás, mandou para os campos de concentração homossexuais. Irônico, não?! Vocês, que concordam com esse vídeo, estão usando um argumento para atacar a nós, que defendemos o Kit contra Homofobia, sem nem saber do que estão falando. Pois eu devolvo a pergunta: vocês lembram de Hitler e dos campos de concentração? Vocês conhecem a história dos triângulos rosa?



Bom, não vou continuar discutindo o vídeo. Ele continua girando em torno desse argumento absurdo: “o governo quer que nossos filhos sejam homossexuais”. Eu tenho uma tendência acreditar que se trata de um desconhecimento e, portanto, indico esse vídeo sobre o Kit para que as pessoas realmente tenham conhecimento do que se trata. O vídeo não está muito bom, nem tão arrumadinho ou bonitinho como o outro, mas ainda assim sugiro que vocês o vejam com calma. E principalmente, pensem: o que há de anormal em ser homossexual? Por que isso deve ser tratado como anormal? E não me venham dizer que não é natural, porque há milhares de anos que não há mais nada de natural no que diz respeito a seres humanos. Vocês fazem sexo só quando estão no cio? Isso é natural. Qualquer coisa que vá além disso é humano, construído, formado. E deve ser respeitado. É por que está na bíblia? Mas Deus não disse que “todo o homem que se eleva será rebaixado, mas quem se rebaixa será elevado”(Lucas 18:14), e que portanto enquanto vocês batem no peito para dizer que estão certos estão pecando muito mais do que aqueles que vocês julgam serem os pecadores? Aliás, sugiro que leiam mais a bíblia, porque nela também está escrito que “Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados” (Lucas 6:38). Dizer que é anormal ou errado é preconceito. É contra isso que o Kit contra a Homofobia foi desenvolvido.

domingo, 19 de junho de 2011

Domingo

Dia claro, um sol morno de final de outono me aquece enquanto ainda sem abrir os olhos me mecho na cama. Viro-me, abro os olhos, olho pela janela na preguiça de uma manhã de domingo, aquela claridade invadindo todo o meu quarto e iluminando partículas suspensas, iluminando sonhos ainda não completamente esquecidos confundidos com as lembranças que passaram pela cabeça antes de dormir, iluminando tudo o que em mim é possível iluminar. Respirar fundo e começar um novo dia. Esticar-se preguiçosamente e perceber-se novamente nostálgica, revivendo sorrisos que encontrei pela semana, tentando lembrar das doces palavras escutadas por acaso e esquecer das rudes jogadas na cara. Mas essa semana foi o contrário, o que foi bom foi dito frente a frente, o que foi ruim foi ignorado porque não foi direto, ainda estou confusa e com um restinho de sono insistindo em fechar os olhos e misturar as lembranças. Percebo que pensei ‘novamente nostálgica’ e rio de mim mesma porque sei que nostalgia é uma daquelas coisas sempre presentes. É como aquela frase, “Il y a toujours quelque chose... toujous quelque chose”... como era mesmo o final da frase? Muito cedo para francês. Viro na cama, me acomodo para aproveitar que ainda não acordei direito então dá pra tentar voltar ao sono. Mas ainda sorrio, e penso que as coisas andam deliciosamente nos eixos, tão bom que começo a pensar que talvez seja o indicativo de grandes tempestades. Acho que perdi o costume de ter uma vida sem muitos problemas, fico meio perdida e sem saber o que fazer com isso, com essa coisa parecida com a felicidade que tenho tanto sentido nos últimos dias. Não que esteja tudo perfeito, mas são problemas com soluções, são saudades que permitem respirar, são dores quase cicatrizadas e que de qualquer forma não vão incomodar muito hoje. Mês que vem sim, vão vir com toda força...amanhã provavelmente também, mas hoje é isso, tá tudo calmo, tudo meio assim, leve. Leve como uma manhã de domingo tem que ser, leve como o vento fraco que entra pela janela e que recebo com os olhos fechados e com a alma aberta. A frase... vi numa crônica de Caio F, era de uma carta de Camille Claudel para Rodin. Era o indicativo de que nostalgia é uma coisa tão antiga quanto se pode pensar, fico tentando lembrar, porque nunca passo do ‘quelque chose’? Por que tudo tem que ter um motivo, por que ainda é tão cedo e eu já estou tentando teorizar? Fico pensando que tudo o que faço é em busca de uma explicação de mim mesma, mas rio alto por saber que é uma explicação psicanalítica demais pra mim, ainda mais em um domingo de manhã. E hoje não é dia de pensar, é dia de esquecer que se é, deixar tudo de lado a não ser para lembrar-me de melhores dias, que não eram domingos porque domingos quase nunca são bons. Ou de futuros domingos que, quem sabe, não se acorda sozinho e fica assim, teorizando sobre a falta. A falta.“Il y a toujours quelque chose d’absent qui me tourmente”. Sempre há. Tenho ainda o gosto de sábado à noite na boca, foi bom, percebo um sorriso se formando. Estico-me para aproveitar o sorriso, é bom isso, de sorrir no domingo, domingos são solitários e costumam ser difíceis. A semana foi boa, coisas boas ditas de frente, olhos nos olhos, sorrisos doces, essas coisas. Começo a lembrar e de repente me pego imaginando, ou sonhando com possibilidades, ou inventando. Sei lá, ia ser bom. E de qualquer forma hoje é domingo, e domingos são solitários. E na solidão ou se lembra, ou se inventa amores. Hoje fica sendo um pouco dos dois.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Eu queria que você soubesse...

Sabe, eu ainda penso em você. Em dias como hoje, madrugada alta, insônia batendo na porta, um vento frio que entra pela janela e quando percebo estou pensando em você. Não devia, eu sei. Também não queria, mas pensamento não é assim, uma coisa que a gente escolhe. Eu não escolho pensar em você, mas os pensamentos vêm à minha mente como borboletas que chegam voando devagarzinho e mesmo que a gente não queira elas param e se deixam ficar lá, esquecidas. Transformam-se em parte da paisagem.



E isso, de pensar em você, é uma coisa tão óbvia para mim, mas que quando tento explicar me soa tão confuso. Porque eu não penso em você querendo voltar àquela época. E nem com esperanças, ou esperas. Não é um sentimento ruim. Também não é saudade. Talvez nostalgia, mas nem é tão forte assim. É quase como se não fosse nada, mas se não é nada porque pensar, fico me perguntando. De repente me lembro de uma frase do Caio F. e me dá vontade de adaptá-la a nós: “E eu estava só começando a entrar num estado de amor por você. Mas você não permitiu, não te permitiu, não nos permitiu”. Mas não digo isso com ressentimento, ou mágoa. É só uma constatação, uma sensação de que podia ter sido, você me entende? A gente podia ter sido alguma coisa.



Sabe, não me lembro de você por solidão. Meu coração está novamente ocupado e, juro que não é uma forma de fazer birra, mas estou muito mais feliz do que naqueles dias. Mas pensar nisso me faz ter vontade de conversar com você. De te contar porque e como estou feliz, de todos os pequenos momentos dos últimos dias, dos últimos meses. Tenho vontade de contar alguns dos encontros e também dos desencontros que tive nesse período – insisto que não é para esfregar minha felicidade ou fazer algum tipo de jogo do tipo eu estou melhor sem você. Juro que não. Até porque tenho vontade de terminar de contar e logo ouvir o que você tem a me dizer, como que passou esses últimos meses, se você resolveu aqueles problemas, se tudo se ajeitou. Porque comigo, tudo se ajeitou – mais que isso, está tudo diferente do que eu tinha imaginado, mas é um daqueles diferentes bons, eu fico pensando que eu estou muito mais feliz do que poderia estar se tudo tivesse saído como eu tinha planejado. E eu queria muito, de verdade, saber que tudo se ajeitou com você também.



Acho que seria como reencontrar um amigo. Desses que a gente perde o contato, mas não o carinho. Talvez seja carinho o que eu sinta. Não, não é isso também. É quase como uma paz. Quase como se depois de todo aquele turbilhão de emoções suscitadas – vergonha, raiva, decepção, surpresa e tantas, tantas outras! – depois de tudo aquilo eu hoje sinta só uma paz. E me lembro de tudo isso como se fosse tão distante, como se fosse um filme do qual me lembro de alguns pedaços, algumas cenas, mas nem sei dizer que filme é, ou quando foi que assisti. E agora, falando nisso, me dá mais curiosidade do que vontade de te ver. Curiosidade de saber como eu me sentiria, se isso ficaria mais claro para mim. E como seria para você.


Eu não sei bem porque estou dizendo isso. Talvez seja o inverno chegando com todos os seus fantasmas, talvez sejam os ventos do outono que costumam bagunçar tudo. Mas queria que você soubesse: eu ainda penso em você.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

À Aline Moura

Muitas pessoas passam pela nossa vida e algumas delas deixam marcas tão fundas que é quase como se ela se tornasse uma parte nossa. Essas pessoas são mais do que amigas. São irmãos e irmãs que escolhemos. Carregamos elas dentro da gente, junto da gente, e de quando em quando nos perguntamos: o que essa pessoa faria/diria se estivesse aqui?


Não sei dizer o que faz com que uma pessoa deixe marcas dessa forma. Algumas ficam por muito tempo e talvez seja o hábito. Outras conseguem deixar marcas muito rapidamente, muito intensamente, mesmo que por pouco tempo de convivência. Seja por um motivo ou por outro, a verdade é que passamos a não conseguir imaginar o mundo sem elas – ainda que elas estejam meio de longe, com conversas e promessas de encontro, mas que na verdade são mais uma forma de dizer “não some que eu preciso saber que você está bem, e que você está próxima”.


Eu tenho uma amiga que é assim. Nos conhecemos há nem sei quanto tempo – mentira, sei, mas tem coisa que é melhor não colocar assim, em datas. Nos conhecemos numa fase de transição, quando estava começando a saber que era adolescente. Nos conhecemos na piscina e foi na piscina que passamos a construir essa amizade. Treinos, divertimentos, frio, viagens, juntar as moedas para comprar um pacotão de esquine (é assim que se escreve?!) que tinha gosto de isopor com sal. Curitiba e pizza no corredor, Presidente Prudente e a gente levantando de madrugada por motivos mairores (rs...), bolo na casa dela antes de ir ao treino, shopping e cinema, ela pintando meu cabelo (o que acabou não dando certo) na única vez que fiz isso. Milhares de outros momentos. Mais do que momentos: foi ela deixando marcas em mim que nunca nada vai apagar.


E essa minha amiga é uma pessoa incrível. Daquelas que sabe a hora de falar e a hora de calar, que sabe como se afastar de uma forma que deixa a gente saber que na hora que precisar ela está de longe, mas cuidando. Minha mãe adorava essa minha amiga e toda a porra-louquice dela. Porque ela não é dessas meninas frescas e cheias de fru-frus (como eu), mas nem por isso deixa de ser uma pessoa incrivelmente sensível e delicada (acho que ela não vai gostar muito de eu dizer isso, porque ela tenta com muita força esconder isso). Animada e divertida, há pouco menos de um ano é uma mãe incrível e preocupada, daquelas mãezonas mesmo. Que chora de susto e de alegria e compartilha isso sem vergonha, porque não tem vergonha do que sente.


E às vezes eu fico com o coração apertado de saudade daquela época quando a gente tinha como maior preocupação uma competição no próximo final de semana, o maior cansaço era depois de final de um treino muito longo, que a gente passava horas e horas dentro da piscina, e de toda aquela leveza que era nossa vida. Mas no momento seguinte também já percebo que não é bem saudade, é uma sensação gostosa de saber que vivemos tudo isso e que ainda continuamos vivendo, ainda que com caminhos paralelos, mas não separados.

Aline, você é uma das minhas amigas mais queridas e uma das pessoas mais importantes da minha vida. Não só porque nos conhecemos a tanto tempo que nem sei, mas principalmente porque você é muito especial, muito querida e muito importante pra mim. Ontem, no seu aniversário, não tive tempo de quase nada, então só pude dar um parabéns bem rápido no seu MSN e nem pude esperar a resposta. Mas mesmo que eu demore para dizer, mesmo que eu suma, mesmo que eu passe dias e dias prometendo te visitar mas sem ir mesmo, nunca esqueça que eu to aqui, ainda que às vezes de longe, torcendo todos os dias para a sua felicidade. E que você sempre pode contar comigo para o que quiser.


Te amo, beijos!!!

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Da série: textos perdidos

São Paulo, Setembro de 2010.

O dia está fechado e frio. De quando em quando uma garoa fina cai do céu e o um vento gélido entra pelas frestas da porta da sacada. A sala está fria, escura e quieta. Tão quieta que resolvo colocar uma música para que possa me distrair do silencio; não adianta. Ele é tão grande que tenho a impressão que nem música o vence. Talvez o silêncio não esteja na sala, esteja na minha alma.

Ligo a TV, nada interessante, desligo a TV. Entro na internet, a internet não funciona direito, desligo o computador. Leio um pouco, não concentro. Ligo de novo, agora a internet voltou. Troco de música. Entro no MSN. Há tanta gente conectada, mas tão pouco a se falar! Converso com um amigo. Pouca conversa, ele está ocupado. Olho pra fora. São Paulo não parece tão grande da minha sacada. O andar é baixo, então a vista limita-se a alguns poucos prédios, um restaurante que fica bem em frente (e que de lá da pra ver a maior parte do meu apartamento e vice-versa, mas que hoje está fechado) e algumas arvores. Sim, tem árvores perto da minha casa, São Paulo não é uma completa selva de pedras.

Abro a porta da sacada, enfrento o frio e o vento de frente. Fecho os olhos e sinto meu rosto gelar mais e mais. Abro os olhos, esqueço meu rosto e começo a olhar pro nada, apenas esperando o tempo passar. Nem sei dizer o que vejo. Mas sem perceber começo a pensar. Lembranças, uma após a outra, aparentemente sem nenhuma ligação. A única coisa que as liga é o fato de estarem perdidas em algum lugar do passado. Lembro de algumas risadas, de algumas lágrimas, de alguns dos momentos que fizeram sentir o coração bater mais forte. Aumento paixões. Revivo despedidas. Me sinto incrivelmente só. Volto a sentir o frio, um arrepio percorre meu corpo. Entro, fecho a sacada, me enrolo em um cobertor. Meu corpo esquenta, meu coração não. Continuo com a mesma solidão.

Troco de música. Começo a conversar com uma pessoa no MSN. Começo uma conversa que já sei onde vai terminar. E o que é pior, sei que não vai terminar e essa conversa, e essa pessoa já fez tantos estragos na minha vida que não sei como ou porque continuo sentindo tudo o que sinto. Deixe-me explicar melhor, não foi ele quem fez; ele, na verdade, nunca fez nada...eu que imagino, leio nas entrelinhas, procuro, tento, vejo. Vejo coisas que não consigo em mais nenhum lugar. Mas não passa de entrelinhas e preciso de uma coisa de verdade pra aplacar essa solidão, não posso mais viver de sonhos.

Não posso mais viver de sonhos, mas não sei viver de outro jeito.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Uma amizade em fotos

Quando eu estava no segundo ano do Ensino Médio eu fui à casa de um amigo meu, o Vinicius. Foi um desses dias à toa: estávamos eu, minha irmã, a Fabi, a Yara, o Felipe e o Yuri. Bom, nossa amizade continua até hoje, mas não é dessa amizade que quero contar hoje – é bem verdade que essa merece um longo e sentimental post, mas não hoje. Hoje é para falar de uma pessoa que eu conheci nesse dia. Ou melhor, que eu vi pela primeira vez nesse dia.
O fato é que estávamos no Vinicius esse dia, fazendo a maior bagunça. Fizemos competição para ver quem colocava mais pipoca na boca,




Colocamos roupas de teatro e fizemos posses esdrúxulas (eu até pensei em por essa foto, mas essa não dá), fizemos guerra de travesseiro, ouvimos música, vimos fotos, conversamos, comemos pimenta, bagunçamos.


Enfim, passamos a tarde inteira nos divertindo.
É, mas a irmã desse meu amigo ficou trancada a tarde inteira dentro do quarto dela.
Mas a gente era muito sem noção. E, para encher o saco, invadimos o quarto dela. E tiramos uma foto surpresa:


Olha só, até chamamos para que ela tirasse mais fotos com a gente. Mas não sei porque – penso de verdade que ela devia odiar a gente – ela não quis.
Temos uma característica muito particular: somos um grupo de amigos. E por isso, um amigo trás outro amigo, aí um irmão, um primo, algum conhecido... e com isso, além de ser amiga do irmão dela, acabei me tornando também amiga dela - eu não sei dizer exatamente quando, ou como. Mas sei que não foi nesse ano. Acho que foi até depois que eu comecei a faculdade, mas continuávamos nos encontrando em festas, encontros, bagunças.



Essas fotos foram tiradas em 2001. Fazem, portanto, 10 anos. E aconteceram milhares de coisas nesse meio tempo.
O fato é que a irmã do meu amigo se tornou uma das minhas melhores amigas.
A Angélica – ou Gê – é uma pessoa incrível. Divertida, dedicada, companheira. Com um otimismo empolgante. Séria quando necessária. Disponível para os amigos sempre que eles precisam. E isso fez com que, pouco mais de cinco anos depois, já estávamos em uma mesma foto:





E olha só: em tão pouco tempo (a foto é de cinco anos, mas bem antes já éramos amigas) nos tornamos muito amigas. Tanto que nesse dia ela me viu em cima do balcão do Pele Vermelha - essa foto é da boate da minha formatura. E nem foi o dia que ela me viu de porre. E, no dia seguinte, estava ela no meu baile de formatura, compartilhando comigo um momento de muita alegria

Já tínhamos melhorado bastante nesse meio tempo, não?!)

Mas de lá pra cá, já fizemos muita coisa. Já tomamos porres juntas. Já discutimos romances. Já reclamamos da vida, já choramos, já sorrimos. Fomos a shows, festas e também a outros lugares nada agradáveis. Compartilhamos medos e angustias, sugerimos filmes, influenciamos nas decisões mais sérias e nas mais corriqueiras.
Até que um dia ela resolveu ir embora.
Sim, essa frase foi muito trágica e um tanto exagerada. Mas tem um porquê: eu e todos os amigos dela ficaram divididos com essa decisão. Porque se por um lado ficamos mega felizes por saber o quão importante era isso, o quão incrível seria essa experiência, tanto pessoal quanto profissionalmente, por outro nos sentimos um pouco abandonados. Aí, fizemos uma festa para dizer isso pra ela: que nós a amávamos tanto que até faríamos de conta que não nos importaríamos tanto com a ausência dela.
E a menina que naquele dia ficou a tarde inteira trancada dentro do quarto ganhou o mundo.
Aí ela tirava fotos e a gente ficava só olhando.




E a gente tirando fotos por aqui...




Até que se passaram dois anos.
E olha só: não foram dois anos separados. Porque nesse meio tempo a distância foi diminuída pelo MSN, a saudade enfeitada com as conversas pela cam, a presença vivenciada através das páginas de relacionamento. Porque vimos os momentos felizes e divertidos das fotos, conversamos sobre os momentos difíceis. Dávamos – e recebíamos – colo por MSN [descobrimos que isso é possível, e até mesmo necessário...].
Assim, apesar de tanto tempo longe ficamos tão próximas quanto sempre. Contávamos a vida, os amores, os porres, as coisas que conheciamos, o que conquistávamos, o que nos irritava. Nossos medos e esperanças. Vivemos juntas, também.

Mas a gente sabe que isso não é exatamente como a presença. Porque falta o abraço de verdade, o toque. O sorriso sem mediação, com nitidez. Aquela coisa de pegar o telefone e marcar um encontro, nem que seja para uma daquelas bagunças sem noção, pra sentar e ficar conversando sobre tudo e sobre nada.
Eu mudei nesse meio tempo. Ela mudou, provavelmente muito mais do que todo mundo que ficou aqui. Mas tenho certeza que a gente não vai retomar a amizade, porque ela nunca foi interrompida: nós vamos nos conhecer novamente, continuar uma nova etapa na nossa amizade. E logo perceberemos que não mudamos tanto assim, principalmente porque nossa relação não mudou.
E com isso vamos ter mais do que outras fotos juntas: ter momentos, que é o que realmente importa. Por isso, já faz dias que eu penso: chega logo, dia 05 de Maio. Chega logo porque a saudade já chegou no limite e a falta parece que ficou mais pesada nos últimos dias do que em todo o tempo anterior.

Gê, te amo estamos todos esperando e loucos de vontade de aquietar um pouco essa saudade!!!!!

P.S.: Não briga comigo pela primeira foto, eu me sacaneie antes...rs

terça-feira, 12 de abril de 2011

Pensamentos Aleatórios

Às vezes tenho a impressão que a vida é como uma dessas grandes cidades cheias de quadras, cada uma com um formato, tamanhos e coisas diferentes e, por isso, cheio de esquinas - algumas mais repentinas do que se supunha quando começamos uma nova quadra. E as pessoas são como turistas que caminham por essas quadras, dobram as esquinas, às vezes entram nos prédios e vão ficando pelo caminho.

Acontece que a cada esquina que você dobra você encontra um novo mundo. É tudo muito diferente! Há muito a se descobrir em cada quadra, há tanto a ver, a dizer, a fazer...às vezes queremos continuar lá por mais tempo, mas é preciso continuar a caminhada, mudar de quadra. Às vezes, dobrar a esquina.

Mas, como eu disse, somos turistas perdidos. Às vezes viramos tantas vezes de quadra, dobramos uma esquina jurando que nunca mais olharemos para trás... e damos voltas e voltas e voltas e caímos lá, de novo. Mas então olhamos com calma e vemos que aquele lugar já mudou, ou que nós já mudamos. Normalmente os dois.

E o melhor é que nesse caminho não estamos sozinhos. Algumas pessoas estão conosco o tempo todo; talvez não caminhando lado a lado, mas na rua oposta, à distância da visão; outras vão ficando pelo caminho, vão para ruas mais distantes, andam mais rápido ou mais devagar que a gente, resolvem dobrar esquinas contrárias. Encontramos outras pessoas que passam a andar conosco, que mudam nossa forma de andar, que nos fazem querer ficar mais tempo naquele caminho. Ou que nos fazem querer chegar logo a próxima esquina.

Mas o mais surpreendente é que entre essas pessoas que você deixou pra trás em uma esquina qualquer, algumas vão reaparecer lá na frente. É maravilhoso reencontrar pessoas quando a gente inicia uma quadra que vai ser difícil. É mais fácil fazer parte de uma quadra totalmente estranha, mas com antigos companheiros de caminhada. E quando reencontramos alguém em uma esquina qualquer da vida é incrível como nos sentimos mais fortes para continuar a caminhada junto de verdade, olhando no olho, abraçando e rindo e ouvindo a risada e sentindo o abraço. E, principalmente, descobrindo novos caminhos.

Por isso, cada vez que dou um passo em uma nova direção, cada vez que eu vejo que uma nova esquina está chegando, eu olho em volta e penso em tudo o que vivi naquele caminho. E então eu me despeço das pessoas com quem caminhei naquela quadra com um pensamento, quase um desejo: ainda vamos nos encontrar em alguma esquina.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Um dia desses, num desses encontros casuais

- Oi!!! Há quanto tempo!

- Nossa, nem me fale. Como anda a vida?

- Indo! E você?

- É capaz da gente se encontrar, então...porque eu também to indo. Só não sei bem para onde!

- É, a gente nunca sabe...

Sorrisos. Troca de olhares. Silêncio.

- Sinto sua falta.

- Também sinto a sua. Mas você sabe, o destino nos levou a caminhos diferentes.

- Não, não o destino. Nossas escolhas.

- Nossas escolhas não são nosso destino?

- Não. Nossas escolhas são nossas escolhas. Destino é uma outra coisa que eu não acredito. Uma coisa que tenta fazer a gente pensar que a vida não podia ser diferente do que é.

- E a vida sempre pode ser diferente. Você sempre tentou me fazer acreditar nisso.

- Acho que nunca consegui.

- Você ainda é muito presente. Você sabe... eu ainda penso em você.

- Você é mais presente na falta. Não me leve a mal, mas quando estávamos juntos nunca estávamos juntos de verdade. Você estava sempre pensando no futuro, fazendo planos e projetos.

- E você sempre no passado. Suas lembranças e culpas. Você sempre foi muito nostálgica.

- E você muito sonhador. Seriam nossos maiores defeitos?

- Nossas principais características. Tornamo-nos irreconciliáveis?

- Nós não conseguimos nos entender.

- Conseguiríamos?

- Não sei. Nunca vivemos ao mesmo tempo.

- O que vivemos foi bom. Falando assim parece que deu tudo errado, mas não é porque acabou que não valeu a pena. Valeu. Apesar de tudo, você sabe... nós fomos muito felizes.

- Só durante o prelúdio. Quem sabe um dia ainda seremos mais?

- Quem sabe. Mas não hoje.

- Não, não hoje. Hoje tenho que ir.

- Eu também tenho. Foi bom te ver.

- Foi bom te ver. Até um dia.

quinta-feira, 31 de março de 2011

Procura-se alguém que goste de Jazz

Procura-se alguém que goste de Jazz. Não precisa ser bonito, não precisa ser forte. Preferencialmente deve ser mais alto que eu, mas como qualquer preferência é negociável.

Não é necessário entender Jazz, apenas gostar. Não precisa ouvir uma musica e identificar estilo, autor, tendência ou o que. Eu não sei tanto e não exijo isso, de forma alguma. Não é necessário sequer ter um jazzeiro preferido, é preciso apenas que escute de vez em quando, que vá a um bar que toque e que não ache isso chato. Que possa achar divertido passar um tempo comigo ouvindo uma musica num café, que comentemos um livro, que troquemos comentários e sugestões. O jazz é indispensável porque tenho um gosto de velha e preciso sentir que sou normal e que isso é desejável. Pede-se também que goste de musicas de Chico Buarque pelo mesmo motivo.

Aliás, com Chico Buarque eu tenho uma relação que deve ser compreendida. Quando eu cantarolo “João e Maria” é porque estou triste, “Morena de Angola” é nos meus melhores dias, “Cotidiano” é sinal de tédio. As outras talvez não tenham nenhuma associação direta com meu humor, mas estas é preciso levar em conta. Sempre. A inteligência é mais que bem-vinda. Mas pede-se que não seja uma inteligência acadêmica, que deseja explicar tudo a todos em qualquer momento; mas uma inteligência sagaz que percebe e deixa transparecer isso pelo olhar.

Ah é preciso saber olhar, muito bem. Não se engane pensando que se nasce sabendo olhar: é preciso aprender. E procura-se aquele que aprendeu a olhar de um jeito que me faça sentir notada. Desejada também é aceitável, mas antes disso tem que ser notada, sentir que apesar de ter mulheres mais bonitas e perfeitas que eu, é pra mim que se escolha olhar. É preciso ter um brilho no olhar quando me vê. É preciso que, de vez em quando, eu perceba que este olhar está me procurando, quando eu estou longe. Mas não pra me controlar, portanto quando meus olhos cruzarem com este olhar que me busque troquemos sorrisos e voltemos às nossas ocupações. Voltemos, entretanto, com a certeza de ter alguém.

Também é preciso que saiba ler meus olhares e perceber quando estou pedindo colo ou querendo bater. E para isso é preciso perceber além dos meus sorrisos. É necessário que tenha um abraço protetor, daqueles que nos fazem esquecer todos os problemas, na verdade, todo o mundo lá fora. É preciso secar minhas lagrimas, sem insistir quando eu não quiser dizer nada. E entender que meus sorrisos e minhas risadas muitas vezes estão juntas - mas isso não significa que não esteja realmente sofrendo. Meus sorrisos às vezes são minha proteção, por isso é preciso ir além deles.

Pede-se que tenha um toque delicado, mas seguro. Segurança é necessária para que eu possa sentir-me como num porto amigo quando estiver no meio de uma tempestade. E delicadeza indispensável para que eu não me sinta como apenas um objeto. Esta segurança também é necessária para entender que eu gosto de pagar minhas contas, que eu sei trocar lâmpadas e mato baratas com um pouco de nojo, mas sem escândalos. E preciso ter alguém que entenda que estou com ele não para isso, mas porque gosto da companhia, me sinto bem com a presença. É necessária a segurança para entender isso: que não estamos juntos porque eu preciso, mas porque eu quero.

É preciso sorrir. Não precisa ser sempre ou pra tudo, mas ao menos de vez em quando é necessário. Pode ser só pra mim, mas se for ele tem que ser o sorriso mais intenso do mundo. Bom-humor é apenas desejável, mas mau-humor crônico, rabugice e cara feia desclassificam. Não é preciso ter dinheiro, me levar a lugares caros ou me dar presentes. Não é preciso colar em mim nem me contar todos os passos. É incentivado a ter uma vida independente da minha, com seus amigos e seus programas, aos quais eu só comparecerei em ocasiões especiais. Assim como terei meus amigos e meus programas: não seremos grudados, cada um terá seu próprio Orkut, não teremos a senha dos e-mails, não espionaremos os celulares. Construiremos uma relação que tenha confiança, embora algumas demonstrações de ciúme podem ocorrer, de ambas as partes. Demonstrações, não cenas deploráveis.

É preciso entender que eu gosto de poesia e de vez em quando é aconselhável que me escreva alguma em um pedaço de papel, ou me mande por e-mail. E que por mais que eu diga o contrário eu sou uma romântica inveterada que gosta de flor (que pode ser tirada de uma arvore e entregue na hora), de declarações de amor e de carinho, de surpresas. Outra necessidade é a paciência e a compreensão. É preciso compreender que eu tenho certo receio de relacionamentos então é preciso insistir, ir à fundo, porque as vezes fujo do que mais desejo. Por isso é preciso não desistir quando eu parecer ausente: na verdade é quando eu vou estar mais atenta, esperando. É preciso, por isso, ouvir meus medos absurdos e pode até discordar, achá-los idiotas ou sem sentido nenhum, mas em hipótese alguma pode-se dizer “não chore” ou “deixe isso pra lá”. Mas o silêncio, quando acompanhado de um abraço confortante daqueles que disse acima, pode ser recompensado. Fazer com que eu me sinta protegida, em qualquer situação, será recompensado.

Na verdade, tudo é negociável. Algumas coisas eu posso ensinar, outras eu posso aprender. Até desisto de algumas delas e elas não são únicas, são bem vindas diferentes características, gostos, vontades. Mas o Jazz... é indispensável gostar.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

De que é feita a vida?

Do que é feita a vida?

De momentos, desejos, compromissos, dúvidas, poesia, música, sonhos, decepções. É feita de amigos e pessoas que não gostamos, de inimigos confessos e ocultos, de admiradores e admirados. É feita de mágoa. De alegria. De projetos concretizados, de projetos esquecidos pelo caminho, de projetos que temos que abandonar temporária ou definitivamente. É feita de silêncios – os solitários e os necessários. É feita de nostalgia e de esperança. De sabores, cheiros, toques, sensações. De bons livros. De péssimos livros, mas que devem ser lidos. De responsabilidades. De trabalho. De obrigações. De lágrimas e gargalhadas. De solidão. De amizade. De companheirismo. É feita de festas e lutos, de fotos e filmes, de lembranças, de medos, de sonhos. De lutas. De vitórias e derrotas. De espera. De tempo perdido. De lindos dias claros e tristes. De dias chuvosos cheios de raios, trovões e alegrias. De flores, borboletas, perfumes, delicadeza. De gritos, brigas, brutalidade. De brilho. De escuridão. De perdas e ganhos. De escolhas – escolhas nossas e escolhas dos outros que interferem na nossa vida. De confusões. De tédios.

A vida é feita de contradições.

A vida é feita de fragmentos.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Aprendi

Certa vez li que devíamos, todos os dias, pensar no que aprendemos de novo. Acho exagero, todos os dias. Mas, pensando nisso resolvi lembrar-me do que aprendi no ano que passou – ainda que ano com um certo atrasado, já que Janeiro já está acabando.

Engraçado como, ao sentar para escrever tudo o que aprendi neste ano que já se encerrou, tudo parece tão longe e dissipado. Não que eu não tenho aprendido nada; mas é que olhando para quem eu sou hoje eu vejo a concretização de dezenas de coisas que têm se delineado há tanto tempo, e outras que eu não reconheceria em nenhum olhar ao passado. Coisas que parece que surgiram em mim e me resolveram, serviram para cobrir as brechas que existem em mim. Coisas que ampliaram os meus limites.

Dando uma primeira olhada, rápida, tive a impressão que no ano que se encerrou aprendi apenas a esperar e esperar e a esperar. Mas foi mais que isso. Aprendi, sim, a esperar. Mas essa espera me ensinou também a fazer escolhas e tomar decisões. Essa espera me ensinou a, novamente, olhar dentro de mim e respeitar o que vejo, mesmo que não concorde.

E o que vi foi uma pessoa que amadureceu mas que ainda sofre e chora pelos mesmos motivos e que já há muito sabe que algumas dores são para sempre. Uma pessoa que aprendeu artimanhas para disfarçar a dor, e com isso aprendeu a cozinhar melhor do que em todos os anos anteriores.

Aprendi como é não estar rodeado por pessoas que já conhecem o seu trabalho e sabem do que você é capaz. Isso faz com que os caminhos sejam mais difíceis, mais tortuosos e repletos de nãos. Mas também aprendi que isso faz com que fique mais claro em nossa mente o que queremos.

Aprendi que não é fácil ir em busca dos sonhos, principalmente quando não se acredita muito neles. Mas que, quando a gente começa a acreditar é preciso bater o pé e até arrumar algumas confusões pra manter-se em busca dele. E que às vezes é preciso abrir mão de certas coisas e fazer escolhas difíceis, principalmente quando se está mais acostumado a viver o presente do que sonhar com o futuro.

Aprendi a sonhar com o futuro sem deixar de viver o presente.

Aprendi que fazer planos é um belo de um passatempo e muitas vezes não passa disso. Mas que é necessário fazê-lo, desde que se tenha em mente que não são círculos fechados e sem possibilidade de alteração. É preciso fazer projetos, e é preciso ser suficientemente corajoso para abrir mão deles e estar disposto a alterá-los.

Aprendi muito com a indecisão alheia, de como é preciso respeitar não só os próprios limites, mas também os dos outros. Aprendi que quando a gente menos espera as coisas surpreendem-nos. Para o bem e para o mal. E que, na verdade, é preciso estar distraído e esperando absolutamente nada. Porque quando eu esperava convites, vieram silêncios. Quando eu esperava silêncio, vieram palavras. Quando eu esperava um sim, veio um não. Quando eu esperava respostas, vieram perguntas. Quando eu tinha certeza, construíram-se dúvidas. E quando eu não esperava nada, vieram frases, explicações, propostas, elogios, diversão.

Aprendi que às vezes é preciso seguir os próprios conselhos. E nunca o ‘faça o que eu digo, não o que eu faço’ fez tanto sentido.

Aprendi que às vezes é preciso silenciar, mesmo quando queremos anunciar aos quatro ventos o que enche o nosso coração.

Aprendi que às vezes é preciso seguir o nosso coração mesmo quando a razão – e todo mundo que esta em volta – diz o contrário. Aprendi que isso não é fácil. Aprendi que isso dói, mas que a dor as vezes é melhor que a dúvida.

Aprendi a perdoar.

Aprendi a não esperar que os outros sejam o que a gente quer que eles sejam.

Aprendi que não se pode controlar o que se sente. E aprendi muito sobre mim, sobre meus sentimentos. Percebi que de vez em quando achamos que um sentimento está enterrado, mas então nos percebemos caindo nas mesmas armadilhas preparadas por nós mesmos.

Aprendi que é preciso se deixar pegar pelas armadilhas. Mas que não podemos nos aprisionar permanentemente nelas.

Aprendi que de vez em quando um sentimento acaba, mas não tem nada pra colocar no lugar então a gente faz de conta que ele continua, como se a gente emprestasse alguma coisa pra alguém até que o verdadeiro dono venha e assuma.

Aprendi que amizades são muito mais importantes do que qualquer coisa. E que algumas são eternas, mesmo com a distância, mesmo com a ausência, mesmo com as diferenças.

Aprendi que esquecer problemas não os resolve; mas os aumenta.

Aprendi a tomar banho de chuva como uma forma de voltar à infância perdida e nesse banho encontrar um silêncio confortante, quase um vazio.

Aprendi que ser responsável por outras pessoas não significa que você tem que deixar de se responsabilizar por si mesmo. E que é difícil, mas necessário, equilibrar as duas coisas.

Aprendi a viver com saudade. Com muita saudade. E a me deixar quieta, em silencio, sofrendo, sempre que necessário. E depois levantar. E continuar.

Aprendi que não sou mais criança, mas que ainda me comporto como tal. E que é preciso mudar e assumir minha vida, e não ficar tentando e esperando que os outros o façam por mim.

Aprendi que tenho o direito de ser feliz. E nos últimos dias me vejo me reacostumando a isso e ainda me soa um pouco estranho, dizer assim, que apesar de tudo eu sou feliz. Mas é em busca desta felicidade que darei meus próximos passos.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Santa Sofia de La Piedad.

Acho que sou uma das poucas pessoas que se lembram com clareza dessa personagem do livro “Cem anos de Solidão”, de Gabriel García Marquez. O fato dessa personagem não ser lembrada com freqüência é provavelmente mais um dos incontáveis indícios da genialidade deste autor. Porque Santa Sofia de la Piedad ‘tinha a rara virtude de não existir por completo, a não ser no momento oportuno’.

Santa Sofia era, pela descrição de Gabo, feia. Comum, no mínimo. Ela poucas vezes é citada no livro, a maior parte delas acompanhada pela ressalva de que ela não existia por completo, a menos quando era necessário.

Às vezes tenho inveja desta descrição. Mais que isso, de ser assim.

Porque eu me dôo por inteira, em tudo. Não sei me envolver pela metade, amar sem ser por inteiro, viver sem paixão, fazer qualquer coisa simplesmente por fazer. Existo com intensidade. Adoro isso em mim, mesmo. Mas às vezes...cansa.

Porque quando eu estou muito feliz, acho maravilhoso ficar cantando gritando dentro do carro, e dançar feito louca sozinha no meu quarto, e fazer caretas, e conversar, e abraçar, e fazer outras coisas que, aos olhos de grande parte das pessoas, pareceria, na melhor das hipóteses, loucura.

E quando eu estou muito triste tenho a exata sensação de que existe um mundo inteiro nas minhas costas. Nesses momentos intensidade cansa, mas ainda não é quando tenho vontade de ser Santa Sofia. Porque dói, e eu choro até não ter mais força, mas depois eu levanto e aos poucos eu vou me reerguendo. Às vezes, também canto feito uma louca, gritando. Às vezes fico cantando baixinho as músicas mais tristes que me lembro e chorando sozinha, 'até ter dó de mim'. Às vezes cozinho até cansar. Às vezes só me deixo jogada em um canto esperando juntar forças. E elas podem demorar...mas sempre voltam.

Eu tenho vontade de ser Santa Sofia em momentos como eu estou vivendo agora. De espera. Quando não se tem o que fazer e até os sentimentos vão ficando escassos, e a intensidade vai se esvaindo. E eu tento, tenho momentos que coloco uma música alta, procuro nas minhas lembranças motivos pra ter intensidade, e tenho até alguns poucos instantes... mas a maior parte do tempo é um tédio, uma angustia, um nada. Eu sei, que daqui a pouco as coisas vão se ajeitar. Eu logo vou voltar àquela correria, que eu tanto amo. Mas até chegar lá... tenho que esperar. E aí que me vem à cabeça a Santa Sofia. Porque nesses momentos...me dá vontade de não existir, de pular essa fase e chegar logo onde as coisas realmente acontecem!
Como passar os dias assim? Invejando Santa Sofia de la Piedad, que existia somente quando era estritamente necessário. E, para mim...só é necessário quando é verdadeiro, quando é forte, quando é intenso.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Palavras

2010. Planos. Trabalho. Dissertação. Festa. Amigos. Surpresas. Tédio. Dissertação. Saudades. Paixonites. Ilusões. Presentes. Alta. Medos. Projetos feitos, projetos desfeitos, projetos refeitos. Dores. Raiva. Decepção. Amizades novas e amizades renovadas. Blog. Orientação. Dissertação, dissertação, dissertação. Frases de efeito. Copa. Beijos. Músicas. Poesia. Livros. Saudades. Dissertação. Cem anos de Solidão. Cozinhar. Conselhos. Melancolia. Tristeza. Alegria. Gargalhadas. Tatuagem. Márquez. Encontros. Desencontros. Casamentos. Festas. Porres. Vergonha. Decisão. Esperanças. Crises. Tombos. Neruda. Depósito. São Paulo. Perder-se. Museus. Bienal. Silêncio. Chuva. Solidão. Encontrar-se. Conversas. Coração disparado. Qualificação. Congresso. Apresentação. Discussões. Encontros. Envolvimento. Encantamento. Saudades. Dissertação. Francês. Longas conversas. Indiretas. Diretas. Timidez. Irmãos e primo. Diversão. Cozinhar. Cinema. Confusão. Emoções. Saudade. Promessas. Praia. Proposta. Campo Grande. Depósito. Nova Alvorada. Entrevista. Pergunta. Silêncio. Lágrimas. Saudade. Dor. Vinicius de Moraes. Desentendimento. Esquecer. Amigos. Recusa. Nova proposta. Teodoro Sampaio. Espera. Dúvidas. Nova recusa. Família incrível. Defesa. Elogios. Abraços. Porre. Comemoração. Luzes de Natal. Solicitação. Dúvida. Saudades diferentes. Amigos incríveis. Pergunta. Resposta. Surpresa. Encontro. Tédio. Sorrisos. Silêncios. Supermercado. Aeroporto. Notícias ruins. Surpreendentemente divertido. Fim.

2011. Esperança. Mudança. Começo.