domingo, 19 de junho de 2011

Domingo

Dia claro, um sol morno de final de outono me aquece enquanto ainda sem abrir os olhos me mecho na cama. Viro-me, abro os olhos, olho pela janela na preguiça de uma manhã de domingo, aquela claridade invadindo todo o meu quarto e iluminando partículas suspensas, iluminando sonhos ainda não completamente esquecidos confundidos com as lembranças que passaram pela cabeça antes de dormir, iluminando tudo o que em mim é possível iluminar. Respirar fundo e começar um novo dia. Esticar-se preguiçosamente e perceber-se novamente nostálgica, revivendo sorrisos que encontrei pela semana, tentando lembrar das doces palavras escutadas por acaso e esquecer das rudes jogadas na cara. Mas essa semana foi o contrário, o que foi bom foi dito frente a frente, o que foi ruim foi ignorado porque não foi direto, ainda estou confusa e com um restinho de sono insistindo em fechar os olhos e misturar as lembranças. Percebo que pensei ‘novamente nostálgica’ e rio de mim mesma porque sei que nostalgia é uma daquelas coisas sempre presentes. É como aquela frase, “Il y a toujours quelque chose... toujous quelque chose”... como era mesmo o final da frase? Muito cedo para francês. Viro na cama, me acomodo para aproveitar que ainda não acordei direito então dá pra tentar voltar ao sono. Mas ainda sorrio, e penso que as coisas andam deliciosamente nos eixos, tão bom que começo a pensar que talvez seja o indicativo de grandes tempestades. Acho que perdi o costume de ter uma vida sem muitos problemas, fico meio perdida e sem saber o que fazer com isso, com essa coisa parecida com a felicidade que tenho tanto sentido nos últimos dias. Não que esteja tudo perfeito, mas são problemas com soluções, são saudades que permitem respirar, são dores quase cicatrizadas e que de qualquer forma não vão incomodar muito hoje. Mês que vem sim, vão vir com toda força...amanhã provavelmente também, mas hoje é isso, tá tudo calmo, tudo meio assim, leve. Leve como uma manhã de domingo tem que ser, leve como o vento fraco que entra pela janela e que recebo com os olhos fechados e com a alma aberta. A frase... vi numa crônica de Caio F, era de uma carta de Camille Claudel para Rodin. Era o indicativo de que nostalgia é uma coisa tão antiga quanto se pode pensar, fico tentando lembrar, porque nunca passo do ‘quelque chose’? Por que tudo tem que ter um motivo, por que ainda é tão cedo e eu já estou tentando teorizar? Fico pensando que tudo o que faço é em busca de uma explicação de mim mesma, mas rio alto por saber que é uma explicação psicanalítica demais pra mim, ainda mais em um domingo de manhã. E hoje não é dia de pensar, é dia de esquecer que se é, deixar tudo de lado a não ser para lembrar-me de melhores dias, que não eram domingos porque domingos quase nunca são bons. Ou de futuros domingos que, quem sabe, não se acorda sozinho e fica assim, teorizando sobre a falta. A falta.“Il y a toujours quelque chose d’absent qui me tourmente”. Sempre há. Tenho ainda o gosto de sábado à noite na boca, foi bom, percebo um sorriso se formando. Estico-me para aproveitar o sorriso, é bom isso, de sorrir no domingo, domingos são solitários e costumam ser difíceis. A semana foi boa, coisas boas ditas de frente, olhos nos olhos, sorrisos doces, essas coisas. Começo a lembrar e de repente me pego imaginando, ou sonhando com possibilidades, ou inventando. Sei lá, ia ser bom. E de qualquer forma hoje é domingo, e domingos são solitários. E na solidão ou se lembra, ou se inventa amores. Hoje fica sendo um pouco dos dois.

Nenhum comentário:

Postar um comentário