quinta-feira, 12 de maio de 2011

Da série: textos perdidos

São Paulo, Setembro de 2010.

O dia está fechado e frio. De quando em quando uma garoa fina cai do céu e o um vento gélido entra pelas frestas da porta da sacada. A sala está fria, escura e quieta. Tão quieta que resolvo colocar uma música para que possa me distrair do silencio; não adianta. Ele é tão grande que tenho a impressão que nem música o vence. Talvez o silêncio não esteja na sala, esteja na minha alma.

Ligo a TV, nada interessante, desligo a TV. Entro na internet, a internet não funciona direito, desligo o computador. Leio um pouco, não concentro. Ligo de novo, agora a internet voltou. Troco de música. Entro no MSN. Há tanta gente conectada, mas tão pouco a se falar! Converso com um amigo. Pouca conversa, ele está ocupado. Olho pra fora. São Paulo não parece tão grande da minha sacada. O andar é baixo, então a vista limita-se a alguns poucos prédios, um restaurante que fica bem em frente (e que de lá da pra ver a maior parte do meu apartamento e vice-versa, mas que hoje está fechado) e algumas arvores. Sim, tem árvores perto da minha casa, São Paulo não é uma completa selva de pedras.

Abro a porta da sacada, enfrento o frio e o vento de frente. Fecho os olhos e sinto meu rosto gelar mais e mais. Abro os olhos, esqueço meu rosto e começo a olhar pro nada, apenas esperando o tempo passar. Nem sei dizer o que vejo. Mas sem perceber começo a pensar. Lembranças, uma após a outra, aparentemente sem nenhuma ligação. A única coisa que as liga é o fato de estarem perdidas em algum lugar do passado. Lembro de algumas risadas, de algumas lágrimas, de alguns dos momentos que fizeram sentir o coração bater mais forte. Aumento paixões. Revivo despedidas. Me sinto incrivelmente só. Volto a sentir o frio, um arrepio percorre meu corpo. Entro, fecho a sacada, me enrolo em um cobertor. Meu corpo esquenta, meu coração não. Continuo com a mesma solidão.

Troco de música. Começo a conversar com uma pessoa no MSN. Começo uma conversa que já sei onde vai terminar. E o que é pior, sei que não vai terminar e essa conversa, e essa pessoa já fez tantos estragos na minha vida que não sei como ou porque continuo sentindo tudo o que sinto. Deixe-me explicar melhor, não foi ele quem fez; ele, na verdade, nunca fez nada...eu que imagino, leio nas entrelinhas, procuro, tento, vejo. Vejo coisas que não consigo em mais nenhum lugar. Mas não passa de entrelinhas e preciso de uma coisa de verdade pra aplacar essa solidão, não posso mais viver de sonhos.

Não posso mais viver de sonhos, mas não sei viver de outro jeito.

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