terça-feira, 28 de junho de 2011

Notas sobre o Kit Gay

Tem um vídeo no perfil de uns amigos que é superbonitinho, bastante animado e colorido. O único problema é quando a gente começa a prestar atenção no que ele diz. Aliás, antes disso: o próprio nome do vídeo já é complicado, uma vez que ao denominar de “Kit Gay” já demonstra o total desconhecimento do Kit do Projeto Escola sem Homofobia. Na descrição ainda tá escrito algo como ‘quem fez isso é um gênio’, num elogio exagerado a um vídeo que, embora bastante engraçadinho, não fala quase nada de útil ou verdadeiro.


O vídeo começa dizendo que esse kit irá tratar como normal coisas absurdas. O que é absurdo? Para mim, absurdo é a homofobia. É você julgar uma pessoa, ou pior, agredir uma pessoa, simplesmente porque ela é diferente de você nas escolhas afetivas. É você reduzir uma pessoa a um único aspecto de sua vida privada – repito, de sua vida privada, coisa que a gente não tem absolutamente nada a ver.


Ele continua dizendo que a criança que tá em idade escolar não tem o caráter pronto e nem a consciência definida. Bom, apesar de usar termos de uma forma errônea, eu entendo o que o autor quis dizer e concordo com essa afirmação. E por isso defendo o Kit Contra a Homofobia: educar as crianças a respeitar a diferença é a melhor forma de criar sujeitos íntegros, conscientes, humanos. Afinal, não é essa a função da escola? Educar? Humanizar, acima de tudo?


"Será que a distribuição desse Kit tem fundamento?" Pergunta o autor. Tem. Tem um monte deles, respaldados pelo Conselho Federal de Psicologia, sem contar uma série de órgãos/grupos de defesa de Direitos Humanos. E sabem por que não tem folhetos distribuídos contra o bullying ou contra o racismo? Porque não matam eles. Porque eles não abandonam a escola. Porque apesar do preconceito – que tem, sim, que ser duramente combatido! – eles permanecem na escola, eles são defendidos por professores/coordenadores, eles não são responsabilizados pela violência sofrida. Eles são ouvidos. Concordo que a educação deveria ser muito melhor, que deve ser feito uma série de ajustes, de melhoras. Uma delas pode ser inclusive a adoção do kit contra homofobia nas escolas. Não porque existe uma campanha midiática para angariar votos. Até porque, numa sociedade machista, preconceituosa e, em muitos aspectos, arcaica como a nossa, nada melhor para angariar votos do que manter as coisas como estão; mas porque ensinar a sermos pessoas melhores deve ser o objetivo da escola.


O Kit contra a Homofobia na Escola não é um 'kit que tenta mandar o teu filho para o outro lado’. Aliás, que outro lado? Isso é uma guerra? Não! Não é uma guerra de homossexuais x heterossexuais, Travestis x Não travestis; é a tentativa de construção de uma sociedade mais justa! E o problema não é chamar alguém de gay. É você usar isso como forma de diminuir os outros, de discriminar. Isso é a homofobia. E nesse sentido, o maior preconceito é dizer algo do tipo ‘eu não tenho nada contra gay, eu até tenho um amigo que é viado e não tenho nada contra ele. Só não quero que meu filho também seja’. Isso é o novo ‘ele é um negro com alma branca’. É dizer ‘ele é gay mas é boa gente’. É o "mas" que está muito mal colocado, é você entender que a princípio o homossexual ou travesti é um sujeito que deva ser desprezado, mas existem alguns poucos que são uma exceção. E isso é errado!


Eu concordo plenamente que não é porque minha praia é futebol que eu vou esculachar quem gosta de boneca, não é porque eu sou hetero que vou bater quem é homo. E é isso que o Kit tenta explicar. Nenhum homossexual ou grupo de defesa de Direitos Humanos quer ‘converter’ as pessoas, nenhum projeto contra a homofobia quer criar homossexuais, quer apenas mostrar que existem pessoas diferentes que devem ser respeitadas. RESPEITADAS, repito e enfatizo. O vídeo também cita Hitler que, aliás, mandou para os campos de concentração homossexuais. Irônico, não?! Vocês, que concordam com esse vídeo, estão usando um argumento para atacar a nós, que defendemos o Kit contra Homofobia, sem nem saber do que estão falando. Pois eu devolvo a pergunta: vocês lembram de Hitler e dos campos de concentração? Vocês conhecem a história dos triângulos rosa?



Bom, não vou continuar discutindo o vídeo. Ele continua girando em torno desse argumento absurdo: “o governo quer que nossos filhos sejam homossexuais”. Eu tenho uma tendência acreditar que se trata de um desconhecimento e, portanto, indico esse vídeo sobre o Kit para que as pessoas realmente tenham conhecimento do que se trata. O vídeo não está muito bom, nem tão arrumadinho ou bonitinho como o outro, mas ainda assim sugiro que vocês o vejam com calma. E principalmente, pensem: o que há de anormal em ser homossexual? Por que isso deve ser tratado como anormal? E não me venham dizer que não é natural, porque há milhares de anos que não há mais nada de natural no que diz respeito a seres humanos. Vocês fazem sexo só quando estão no cio? Isso é natural. Qualquer coisa que vá além disso é humano, construído, formado. E deve ser respeitado. É por que está na bíblia? Mas Deus não disse que “todo o homem que se eleva será rebaixado, mas quem se rebaixa será elevado”(Lucas 18:14), e que portanto enquanto vocês batem no peito para dizer que estão certos estão pecando muito mais do que aqueles que vocês julgam serem os pecadores? Aliás, sugiro que leiam mais a bíblia, porque nela também está escrito que “Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados” (Lucas 6:38). Dizer que é anormal ou errado é preconceito. É contra isso que o Kit contra a Homofobia foi desenvolvido.

domingo, 19 de junho de 2011

Domingo

Dia claro, um sol morno de final de outono me aquece enquanto ainda sem abrir os olhos me mecho na cama. Viro-me, abro os olhos, olho pela janela na preguiça de uma manhã de domingo, aquela claridade invadindo todo o meu quarto e iluminando partículas suspensas, iluminando sonhos ainda não completamente esquecidos confundidos com as lembranças que passaram pela cabeça antes de dormir, iluminando tudo o que em mim é possível iluminar. Respirar fundo e começar um novo dia. Esticar-se preguiçosamente e perceber-se novamente nostálgica, revivendo sorrisos que encontrei pela semana, tentando lembrar das doces palavras escutadas por acaso e esquecer das rudes jogadas na cara. Mas essa semana foi o contrário, o que foi bom foi dito frente a frente, o que foi ruim foi ignorado porque não foi direto, ainda estou confusa e com um restinho de sono insistindo em fechar os olhos e misturar as lembranças. Percebo que pensei ‘novamente nostálgica’ e rio de mim mesma porque sei que nostalgia é uma daquelas coisas sempre presentes. É como aquela frase, “Il y a toujours quelque chose... toujous quelque chose”... como era mesmo o final da frase? Muito cedo para francês. Viro na cama, me acomodo para aproveitar que ainda não acordei direito então dá pra tentar voltar ao sono. Mas ainda sorrio, e penso que as coisas andam deliciosamente nos eixos, tão bom que começo a pensar que talvez seja o indicativo de grandes tempestades. Acho que perdi o costume de ter uma vida sem muitos problemas, fico meio perdida e sem saber o que fazer com isso, com essa coisa parecida com a felicidade que tenho tanto sentido nos últimos dias. Não que esteja tudo perfeito, mas são problemas com soluções, são saudades que permitem respirar, são dores quase cicatrizadas e que de qualquer forma não vão incomodar muito hoje. Mês que vem sim, vão vir com toda força...amanhã provavelmente também, mas hoje é isso, tá tudo calmo, tudo meio assim, leve. Leve como uma manhã de domingo tem que ser, leve como o vento fraco que entra pela janela e que recebo com os olhos fechados e com a alma aberta. A frase... vi numa crônica de Caio F, era de uma carta de Camille Claudel para Rodin. Era o indicativo de que nostalgia é uma coisa tão antiga quanto se pode pensar, fico tentando lembrar, porque nunca passo do ‘quelque chose’? Por que tudo tem que ter um motivo, por que ainda é tão cedo e eu já estou tentando teorizar? Fico pensando que tudo o que faço é em busca de uma explicação de mim mesma, mas rio alto por saber que é uma explicação psicanalítica demais pra mim, ainda mais em um domingo de manhã. E hoje não é dia de pensar, é dia de esquecer que se é, deixar tudo de lado a não ser para lembrar-me de melhores dias, que não eram domingos porque domingos quase nunca são bons. Ou de futuros domingos que, quem sabe, não se acorda sozinho e fica assim, teorizando sobre a falta. A falta.“Il y a toujours quelque chose d’absent qui me tourmente”. Sempre há. Tenho ainda o gosto de sábado à noite na boca, foi bom, percebo um sorriso se formando. Estico-me para aproveitar o sorriso, é bom isso, de sorrir no domingo, domingos são solitários e costumam ser difíceis. A semana foi boa, coisas boas ditas de frente, olhos nos olhos, sorrisos doces, essas coisas. Começo a lembrar e de repente me pego imaginando, ou sonhando com possibilidades, ou inventando. Sei lá, ia ser bom. E de qualquer forma hoje é domingo, e domingos são solitários. E na solidão ou se lembra, ou se inventa amores. Hoje fica sendo um pouco dos dois.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Eu queria que você soubesse...

Sabe, eu ainda penso em você. Em dias como hoje, madrugada alta, insônia batendo na porta, um vento frio que entra pela janela e quando percebo estou pensando em você. Não devia, eu sei. Também não queria, mas pensamento não é assim, uma coisa que a gente escolhe. Eu não escolho pensar em você, mas os pensamentos vêm à minha mente como borboletas que chegam voando devagarzinho e mesmo que a gente não queira elas param e se deixam ficar lá, esquecidas. Transformam-se em parte da paisagem.



E isso, de pensar em você, é uma coisa tão óbvia para mim, mas que quando tento explicar me soa tão confuso. Porque eu não penso em você querendo voltar àquela época. E nem com esperanças, ou esperas. Não é um sentimento ruim. Também não é saudade. Talvez nostalgia, mas nem é tão forte assim. É quase como se não fosse nada, mas se não é nada porque pensar, fico me perguntando. De repente me lembro de uma frase do Caio F. e me dá vontade de adaptá-la a nós: “E eu estava só começando a entrar num estado de amor por você. Mas você não permitiu, não te permitiu, não nos permitiu”. Mas não digo isso com ressentimento, ou mágoa. É só uma constatação, uma sensação de que podia ter sido, você me entende? A gente podia ter sido alguma coisa.



Sabe, não me lembro de você por solidão. Meu coração está novamente ocupado e, juro que não é uma forma de fazer birra, mas estou muito mais feliz do que naqueles dias. Mas pensar nisso me faz ter vontade de conversar com você. De te contar porque e como estou feliz, de todos os pequenos momentos dos últimos dias, dos últimos meses. Tenho vontade de contar alguns dos encontros e também dos desencontros que tive nesse período – insisto que não é para esfregar minha felicidade ou fazer algum tipo de jogo do tipo eu estou melhor sem você. Juro que não. Até porque tenho vontade de terminar de contar e logo ouvir o que você tem a me dizer, como que passou esses últimos meses, se você resolveu aqueles problemas, se tudo se ajeitou. Porque comigo, tudo se ajeitou – mais que isso, está tudo diferente do que eu tinha imaginado, mas é um daqueles diferentes bons, eu fico pensando que eu estou muito mais feliz do que poderia estar se tudo tivesse saído como eu tinha planejado. E eu queria muito, de verdade, saber que tudo se ajeitou com você também.



Acho que seria como reencontrar um amigo. Desses que a gente perde o contato, mas não o carinho. Talvez seja carinho o que eu sinta. Não, não é isso também. É quase como uma paz. Quase como se depois de todo aquele turbilhão de emoções suscitadas – vergonha, raiva, decepção, surpresa e tantas, tantas outras! – depois de tudo aquilo eu hoje sinta só uma paz. E me lembro de tudo isso como se fosse tão distante, como se fosse um filme do qual me lembro de alguns pedaços, algumas cenas, mas nem sei dizer que filme é, ou quando foi que assisti. E agora, falando nisso, me dá mais curiosidade do que vontade de te ver. Curiosidade de saber como eu me sentiria, se isso ficaria mais claro para mim. E como seria para você.


Eu não sei bem porque estou dizendo isso. Talvez seja o inverno chegando com todos os seus fantasmas, talvez sejam os ventos do outono que costumam bagunçar tudo. Mas queria que você soubesse: eu ainda penso em você.