domingo, 22 de agosto de 2010

Começando a vida em São Paulo

São Paulo, há duas semanas. Estou estranhamente adaptada a essa cidade – provavelmente porque ainda estou mais como turista do que como uma moradora. Já acho perto distâncias como uma hora e meia de transporte e ter que optar entre andar 20 e poucos minutos ou pegar outro ônibus já me parece melhor. Minhas pernas parecem saber onde me levar e quando me perco tenho a impressão que estou fazendo uma forma de reconhecimento. Aprendi a pedir informações, a trocar o ônibus pelo metro e depois outro ônibus, a usar o Google Maps em qualquer movimento.
Como ainda não tenho a data da qualificação, ainda não procurei nada por aqui. Acho que vai ser uma coisa de uma hora pra outra, e não posso correr o risco de arrumar por aqui um compromisso que me dificulte ou impeça de voltar pra Campo Grande. E nem perder uma entrevista ou coisa assim porque marquei e depois tenho que desmarcar. Enfim, estou quase na mesma espera que estava em Campo Grande, fazendo força pra controlar a ansiedade e quase enlouquecida com isso.
Mas São Paulo não é só espera. Já conversei com algumas pessoas, que moram ou moraram aqui, e que têm me ajudado muito – a me convencer que foi a decisão certa, me incentivando, dizendo que tudo vai dar certo. Minha insegurança, sempre tão grande, tem cada vez mais dado espaço a certeza de que as coisas vão dar certo. Além disso, existe uma coisa nessa cidade que me fascina. Existem, aliás, muitas coisas que me fascinam. É um mundo de possibilidades, muitas das quais eu talvez nunca chegue a conhecer. São tantas possibilidades que cheguei a questionar se é o doutorado mesmo que eu queria. Talvez procurar um emprego e ficar nele, são tantas as áreas da psicologia! Dúvida que já passou, embora a necessidade de arrumar um emprego seja permanente – preciso me manter por aqui, ao menos enquanto não tenho a bolsa. Isso, claro, considerando que eu entre no doutorado (acho que esse ano não dá mais tempo, provavelmente terei que fazer a seleção só no ano que vem). Me fascina também as pessoas, tão diferentes e convivendo no mesmo espaço, dividindo os lugares, os transportes, os sonhos e os objetivos.
Aqui parece que o tempo passa de uma forma diferente e minha vida tão milimetricamente organizada, como era em Campo Grande, cede espaço a horários malucos (e ainda nem tenho uma rotina que com certeza deixa isso ainda mais intenso). As pessoas aqui parecem ser mais amistosas do que em Campo Grande, o que realmente me surpreendeu. E, como disse meu irmão, as coisas aqui são muito duras e difíceis para que se perca tempo com picuinhas.
Mas uma coisa muito forte por aqui é a saudade. Sinto uma saudade imensa de milhares de coisas! Saudades dos amigos, até daqueles que eu não via com freqüência, mas que tinha a possibilidade de no próximo final de semana marcar alguma coisa. Saudade de encontrar pessoas conhecidas em qualquer lugar; sair pra fazer compras, ou à uma festa, ou em qualquer lugar e, invariavelmente, ver pessoas conhecidas; e às vezes ter a sorte de achar um amigo e pôr a conversa em dia. Saudade do meu pai. Uma saudade tão grande da minha tia que aperta meu coração toda vez que eu falo com ela. Saudade do pôr-do-sol! Aqui de repente já é noite e sinto falta daquela profusão de cores que em Campo Grande nos mostra que o dia já está acabando. Talvez porque meu coração esteja cheio de saudades, mas a saudade que sinto da minha mãe parece ser ainda mais dura por aqui.
E é assim, dividida entre o fascínio das possibilidades e o coração apertado de saudades, que vou começando a minha vida em São Paulo.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Desde o começo eu sabia que essa estória de blog não ia dar lá muito certo. Eu não tenho muita inspiração para manter isso com mais freqüência... mas de vez em quando surgem algumas coisas que têm que ser ditas e escrever às vezes é a melhor forma de fazê-lo.
Hoje eu to indo embora de Campo Grande. É uma mudança que vai acontecer meio aos poucos, porque volto em alguns dias para qualificar, e depois para defender o mestrado, e logo é final do ano e já volto... enfim, estou tentando convencer a mim mesma que este não é um passo gigantesco e que vai mudar completamente minha vida. Parece estar claro que não estou conseguindo.
Neste processo de mudança, apesar de todo mundo saber que eu já tinha decidido ir, eu não contei pra todos que eu estava indo agora. Algumas despedidas ficaram pras próximas vindas, porque eu não agüento tudo de uma vez. Outras despedidas são absurdamente difíceis, mas necessárias, como a da minha tia. Outras, ainda, ficaram meio como um “até logo”, porque a certeza de que nossas vidas é um constante encontro e desencontro faz com que tenhamos a sensação de que não é exatamente uma mudança.
Mas o que me fez escrever este post hoje, algumas horas antes de viajar, foi a despedida que acabei de fazer. Uma das mais difíceis – tanto que teve que ser feita em duas etapas.
Uns amigos vieram aquí em casa agora a noite, e já tínhamos nos despedido no final de semana. E foi com o coração na mão que eu via que o tempo passava, que estava chegando a hora deles irem embora... mas também, e principalmente, foi maravilhoso compartilhar esse momento com eles. Porque cada risada que a gente dava, cada foto da lembrança que eles me preparam que nós víamos, cada palavra me lembrava de uma coisa que a gente passou. Nos conhecemos já faz um tempo grande, mas nos últimos três anos ficamos cada vez mais próximos. E agora, cada problema é enfrentado junto, cada alegria compartilhada, cada sonho divido entre todos, cada decisão conta com a participação e a opinião dos outros.
Foram dezenas de fofocas, suquinhos gamy, fotos, momentos, abraços, lágrimas, palhaçadas, e milhares de pequenos momentos que preencheram minha vida. Sem eles tudo seria vazio. Sem eles eu não teria conseguido enfrentar os furacões e tempestades que de vez em quando a vida trás.
Eu tenho muitos amigos, essa é uma coisa que eu não posso negar. Morro de medo de parecer injusta com alguns, mas saibam que o que faz com que esta despedida tenha sido uma das mais difíceis é porque estivemos muito próximos nesses últimos tempos. Eles estavam no meu dia-a-dia, todo dia no MSN, quando não tinha noticia de um perguntava pro outro. Porque passava temporadas sem sair e de repente resolvíamos fazer uma janta, aí juntávamos meia dúzia de coisas, convidávamos o José e a festa tava feita. E isso era motivo para outras festas, outros encontros, outras conversas. Pelas discussões teóricas, pelos medos, por compartilhar os sentimentos que nada ia dar certo e por passar por isso. Por acordar sete horas da manhã no frio pra estudar junto. Por quase matar o outro por levantar duvidas que antes não existiam, mas que de repente passaram a ser existenciais. Enfim, por serem eles.
Jeferson, Priscila Teruya, Priscilla Bolfer, Luis e Julio. A amizade de vocês está entre as coisas mais especiais que eu tenho na vida. E se hoje eu tenho coragem de ir, é porque sei que tenho para onde voltar. Porque sei que ainda que cada um vá parar em um canto diferente do mundo, nós sempre vamos estar perto.
Hoje, enquanto via aquelas fotos, pensava nos milhares de momentos que a gente passou junto, e das confusões, e das loucuras, e de tantas outras coisas nos tornaram um grupo de amigos. E pensava que consigo ir porque levo dentro de mim todos e cada um destes momentos; que algumas coisas nunca ficam para trás, a gente carrega sempre dentro do coração. E que meus sonhos e meus projetos não existiram sem vocês.
Logo volto para mais momentos e, enquanto isso, a internet vai quebrando o galho e encurtando as distancias!
Amo vocês, e obrigada por tudo.