A primeira vez que vi em uma livraria “As intermitências da morte” decidi que queria ler. Mas lembro que passei meses prometendo que ia comprar, outros tantos esperando meu irmão, que tinha comprado, mandar de São Paulo, mais algumas semanas esperando criar coragem. Porque tinha certeza que não seria uma leitura fácil. Um livro que personifica, coloca sentimentos na morte. Este é para mim um assunto muito delicado; mas os assuntos mais delicados não podem se tornar tabu e este livro estava começando a ser um. Então resolvi respirar fundo e ler um livro que defendia a morte.
Estava errada.
“As intermitências...” é um livro que defende a vida, vivida até o último momento. E que, para que isso seja possível, é preciso entender que uma hora a morte chega; e é preciso recebê-la como a um convidado que causa desconforto e embaraço por ter chegado antes da hora, mas que deve ser bem tratado e chamado a sentar-se conosco.
Não aprendi essa lição. Ainda tenho a morte como a um daqueles convidados que se tem a obrigação de abrigar, alguém que não se suporta, mas não há nada a fazer senão tolerar.
Hoje a morte levou Saramago. O único autor de língua portuguesa a ganhar um prêmio Nobel de Literatura. Autor de uma literatura engajada e crítico de uma sociedade que não vê e não pensa. Contrário às religiões, mas com uma crença inalienável no homem.
Em tempos de celebridade instantânea, de individualismo exacerbado e de paixões por quem aparece na TV é cada vez mais necessário reler, rever, entender o que Saramago disse. O que todos que vão na contramão desta realidade tem à dizer. É preciso deixar de ver e começar a reparar, a olhar, a entender. É preciso ir além das aparências e penetrar na essência das coisas, transformar uma realidade embrutecida e enlouquecedora. É preciso lucidez.
Concordo com Fernando Meirelles: hoje, com a morte de Saramago, o mundo ficou mais burro e cego.
Estava errada.
“As intermitências...” é um livro que defende a vida, vivida até o último momento. E que, para que isso seja possível, é preciso entender que uma hora a morte chega; e é preciso recebê-la como a um convidado que causa desconforto e embaraço por ter chegado antes da hora, mas que deve ser bem tratado e chamado a sentar-se conosco.
Não aprendi essa lição. Ainda tenho a morte como a um daqueles convidados que se tem a obrigação de abrigar, alguém que não se suporta, mas não há nada a fazer senão tolerar.
Hoje a morte levou Saramago. O único autor de língua portuguesa a ganhar um prêmio Nobel de Literatura. Autor de uma literatura engajada e crítico de uma sociedade que não vê e não pensa. Contrário às religiões, mas com uma crença inalienável no homem.
Em tempos de celebridade instantânea, de individualismo exacerbado e de paixões por quem aparece na TV é cada vez mais necessário reler, rever, entender o que Saramago disse. O que todos que vão na contramão desta realidade tem à dizer. É preciso deixar de ver e começar a reparar, a olhar, a entender. É preciso ir além das aparências e penetrar na essência das coisas, transformar uma realidade embrutecida e enlouquecedora. É preciso lucidez.
Concordo com Fernando Meirelles: hoje, com a morte de Saramago, o mundo ficou mais burro e cego.
Espaço Curvo e Finito
ResponderExcluirOculta consciência de não ser,
Ou de ser num estar que me transcende,
Numa rede de presenças
E ausências,
Numa fuga para o ponto de partida:
Um perto que é tão longe,
Um longe aqui.
Uma ânsia de estar e de temer
A semente que de ser se surpreende,
As pedras que repetem as cadências
Da onda sempre nova e repetida
Que neste espaço curvo vem de ti.
José Saramargo
Não conhecia essa poesia... gostei muito!
ResponderExcluirObrigada Lincoln!!!!