Amanhã
vai ser meu aniversário – em alguns minutos, na verdade. E aos 30 não se faz uma retrospectiva
do ultimo ano: se dá uma mirada por toda a vida. O que consegui e o que perdi
até agora. Os meus medos, as minhas coragens, os meus amores, os meus amigos, os
meus planos... nos ultimos dias o tempo todo uma dessas coisas bateu na porta
do meu coração, exigindo que eu pensasse calmamente no que aconteceu e no que isso
significou, ou ainda significa.
Os
medos. Alguns permanecem quase intocados: o medo de não conseguir, assim, no
abstrato e encaixado em quase todas as situaçoes ainda é grande. Mas a coragem
tem vencido ele. Ou ao menos andando ao lado dele, me mostrando que pode ser
que eu não consiga, mas tudo bem: eu vou em frente. Mas há menos medo. Tem sido
mais comum a sensação de que eu consigo enfrentar o que a vida me der: nos
ultimos anos, quando a vida me desafiou eu acabei pagando pra ver e saí ganhando.
Chego aos 30 com muito poucas certezas, mas aprendi que às vezes é preciso se
perguntar “por que não?” e se não tiver uma resposta muito convincente
simplemente arriscar.
Os
meus amores. Penso que sou a rainha das declarações tardias: a mais emblemática
foi uma vez que ele me disse que queria me ver, tinha gostado muito do que tinha
acontecido entre a gente e eu fui concordando, pensando que a gente podia dar
um jeito de contornar a distância... até que ele disse que não podia porque
agora estava namorando. Fiquei extremamente irritada. Nesse dia tive certeza
que declarações só devem ser feitas quando se quer saber do futuro: declarações
do tipo “eu gostava de você, já não gosto” são de extremo mal gosto. Em mais de
uma vez perdi o chão porque estava envolvida e levei um fora. Em mais de uma
situação dei um fora porque não estava envolvida e, entre mortos e feridos,
salvamo-nos todos: não tenho arrependimentos. Mas uma pessoa me disse que eu
era sua alma gêmea. Eu estava para fazer uma grande mudança na minha vida, eu
sabia o que isso significava, era (é) uma pessoa muito especial para mim e
eu simplesmente tive medo. Tive tanto medo que fiz de conta que não entendi – é
o único que às vezes me pego pensando no que poderia ter sido se eu tivesse
feito outra coisa. A verdade é que no que tange aos sentimentos para mim é tudo
muito intenso. E, como qualquer mulher solteira na minha idade, já passei por
todo tipo de situação que me fez pensar em desistir disso. Mas tenho uma fé
meio à la Poliana, então no fim das
contas sempre seco a lágrima (sim, eu choro por homem, depois me odeio por isso
e juro que nunca mais vou chorar) sacudo a poeira e vou adiante. E, nesse meio
tempo, há sempre aqueles casos, casinhos, ocasiões, amores de transição... e,
principalmente, os amigos para tornar a fossa suportável e aumentar a esperança
de melhores amores.
Os
meus amigos. Sou, sem a menor sombra de dúvida, uma pessoa privilegiada. Tenho amigos
que nem mesmo a distancia separa. Conversas, vidas compartilhadas, problemas
divididos, alegrias comemoradas... grandes amigos a quem confio a minha vida. Todas
as palavras do mundo seriam poucas para demonstrar a importancia que eles tem
na minha vida. Chego aos 30 sem poder ter o abraço de nenhum deles nessa data:
mas não importa tanto porque todos os outros dias eles estão junto e logo
estaremos também perto.
Os
planos. Minha vida está absolutamente diferente do que imaginei que estaria. Mas
não diferente-ruim. Sei exatamente onde estou e o que quero; e também o que fazer
para chegar lá. Mas tambem tenho a serenidade de quem já sabe que os planos
podem ser mudados no caminho e que a vida às vezes nos leva pra lados que nunca
imaginamos estar... mas que também são explendidos. Não tenho absolutamente
nada – nem carro, nem apartamento, nem sei onde vou estar morando daqui há seis
meses. Também não tenho uma relação estável e embora ainda às vezes pense em
ter filhos esse não é exatamente um plano. Mas isso não faz com que minha vida
esteja ruim: eu estou em Madrid, conhecendo pessoas e lugares que nunca
imaginei que conheceria, tendo experiencias que são inenarraveis. Crescendo e
me conhecendo mais do que pensei que fosse possível. E, mais do que as
respostas que pensava ter aos 20 anos, hoje sei que são as perguntas que
realmente importam. Foi a dúvida que me trouxe até aqui. E por isso chego aos 30 simplesmente sabendo e sentindo que estou bem, que minha vida não está nos eixos porque a vida não é um trem para estar sempre em cima dos trilhos fazendo os caminhos de forma ordenada e segura.
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