Era domingo, um domingo comum – ou seja, cheio de solidão e angustias, porque bons domingos são quase um paradoxo. Já era noite, naquela hora que realmente não há nada pra se fazer: cedo demais para dormir, mas de qualquer forma não teria sono; tarde demais pra começar uma coisa nova, porque logo já era hora de se preparar para a semana; e o que havia sido começado já tinha sido feito ou desistido. Era uma dessas horas em que só nos resta pensar.
Levantou, foi à sacada, sentiu o vento frio. Viu o céu sem estrelas, as luzes, as nuvens. Procurou pela lua, mas não achou. Procurou por movimentos na rua, mas qualquer barulho estava longe de sua visão. Procurou por resposta, mas as perguntas não lhe agradavam. E foi depois de um tempo perdida dentro do nada que passou pela sua cabeça a pergunta que volta e meia atormenta algumas pessoas: por que estamos aqui?
Por que isso, de viver, sofrer, ser feliz ou não, amar e perder, sentir e esquecer? Pra que os jogos, as paqueras, os romances inventados, os olhares, os toques, as conversas, as brigas destruidoras, a morte, a vida redescoberta, os sorrisos dados e os recebidos (ah, principalmente os recebidos...), os estudos, as pesquisas, o trabalho? Que sentido tem os encontros e desencontros, as despedidas logo amenizadas pelos telefonemas e recados na internet, aquelas que se sabe eternas e que na verdade nunca recebem o adeus final? Pra que isso tudo? Que sentido tem os amigos e amores, as paixões de momento e as da vida, os inimigos, as pessoas que marcam a nossa vida e aquelas que mal nos lembramos que existem?
Ficou por um tempo brincando com esse jogo de palavras que representava a vida dela por mero exercício de retórica. Porque essa resposta era a única que ela já tinha: não importa o porquê. A única coisa que se pode saber é que se está aqui, e a melhor opção é simplesmente viver. Ela sabia que a vida é pra ser vivida, não explicada.
Porque enquanto nos preocupamos com impressões e definições, a vida surpreende com sensações e sentimentos. Quando encontramos respostas surgem mais perguntas e são realmente elas, as perguntas, que fascinam. Quando planejamos a vida nos brinda com momentos inesperados, encontros e abraços. Quando achamos que ela é só dor e sofrimento é que encontramos os melhores sorrisos e gargalhadas. Quando estamos com a impressão que é alegria ela nos joga no meio de um furacão de perdas e destruição. Mas é quando não pensamos, não planejamos, não decidimos, não explicamos que ela se mostra inteiramente, que ela revela sua face mais bonita. É quando podemos sentir que verdadeiramente se é.
Ela sabia que a vida não pode ser só explicada: ela deve ser sentida.
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