segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Programação da semana

Trabalhar, repetir os mesmos erros, reclamar dos mesmos acontecimentos. Se sobrar tempo, se indignar com as mesmas questões de sempre.




Prometer as mesmas promessas, até aquelas que já se sabe que não há tempo para cumprir.




Distribuir indiretas que serão displicentemente ignoradas.




Fantasiar que simples conversas são paqueras veladas.




Sonhar antes de dormir, depois dormir e ter sonhos confusos, acordar meio perdida sem saber o que veio antes e o que veio depois do sono.




Desejar e esboçar mudanças. Temê-las secretamente.




Planejar cuidadosamente cada segundo, só para ver a semana se esvaindo e todo o planejamento ir junto com ela.




Esperar novos ventos, novos olhares, novos encontros. Desejar ser surpreendida.




Enfim, aguardar ansiosamente o próximo final de semana, cheia de esperanças e com a certeza de que é nele que vão ocorrer todas as mudanças que são necessárias, só pra ver que o final de semana acaba muito mais rapidamente do que as esperanças.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Tem gente que é poesia...

Tem uma frase do Manoel de Barros que diz que "Tem gente que nasce poesia...". É bem verdade. Tem gente que é poesia: leve, intensa, toca a gente na alma. E que cada encontro é como uma nova leitura, a gente descobre uma coisa nova, que também toca, também emociona.


Outras pessoas são como uma crônica. Tão cotidianas, tão perto da gente e que encantam justamente porque vêem as mesmas coisas que nós, mas com um olhar totalmente diferente. Ora é um olhar mais engraçado, ora reflexivo, mas sempre emocionante. Fazem com que a gente encare o cotidiano de uma forma muito mais fácil.


Há também aquelas pessoas que são como livros inteiros. É cheio de vais e vens, encontros e desencontros, e no fim você acaba sabendo de tudo da vida dela. E o que mais agrada é que você sente também como se fosse um pouco da sua vida: cada história, cada momento, cada capítulo você se reconhece de alguma forma.

O único problema é que a vida é exatamente como a literatura: para encontrar boas poesias, boas crônicas e bons livros, temos que encarar muita literatura de péssima qualidade.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Intensidade

- Adoro a sua intensidade.


Não foi como um elogio que ela recebeu isso. Era a intenção dele, ela sabia, já tinha ouvido isso outras vezes e de pessoas menos interessantes, menos importantes que ele. Ela sabia também que os seus sorrisos, sua presença intempestiva, sua gargalhada solta, suas caretas constantes e tudo o que os outros sintetizavam como ‘intensidade’ era o que mais atraia tanto os amigos como os amores. Mas é que cada vez que ela ouvia isso soava mais como uma bofetada. Porque só ela sabia o quanto, dali de dentro, tudo isso soava falso.


E tudo o que ela queria era ser mais uma. Normal, simplesmente.