quinta-feira, 26 de maio de 2011

À Aline Moura

Muitas pessoas passam pela nossa vida e algumas delas deixam marcas tão fundas que é quase como se ela se tornasse uma parte nossa. Essas pessoas são mais do que amigas. São irmãos e irmãs que escolhemos. Carregamos elas dentro da gente, junto da gente, e de quando em quando nos perguntamos: o que essa pessoa faria/diria se estivesse aqui?


Não sei dizer o que faz com que uma pessoa deixe marcas dessa forma. Algumas ficam por muito tempo e talvez seja o hábito. Outras conseguem deixar marcas muito rapidamente, muito intensamente, mesmo que por pouco tempo de convivência. Seja por um motivo ou por outro, a verdade é que passamos a não conseguir imaginar o mundo sem elas – ainda que elas estejam meio de longe, com conversas e promessas de encontro, mas que na verdade são mais uma forma de dizer “não some que eu preciso saber que você está bem, e que você está próxima”.


Eu tenho uma amiga que é assim. Nos conhecemos há nem sei quanto tempo – mentira, sei, mas tem coisa que é melhor não colocar assim, em datas. Nos conhecemos numa fase de transição, quando estava começando a saber que era adolescente. Nos conhecemos na piscina e foi na piscina que passamos a construir essa amizade. Treinos, divertimentos, frio, viagens, juntar as moedas para comprar um pacotão de esquine (é assim que se escreve?!) que tinha gosto de isopor com sal. Curitiba e pizza no corredor, Presidente Prudente e a gente levantando de madrugada por motivos mairores (rs...), bolo na casa dela antes de ir ao treino, shopping e cinema, ela pintando meu cabelo (o que acabou não dando certo) na única vez que fiz isso. Milhares de outros momentos. Mais do que momentos: foi ela deixando marcas em mim que nunca nada vai apagar.


E essa minha amiga é uma pessoa incrível. Daquelas que sabe a hora de falar e a hora de calar, que sabe como se afastar de uma forma que deixa a gente saber que na hora que precisar ela está de longe, mas cuidando. Minha mãe adorava essa minha amiga e toda a porra-louquice dela. Porque ela não é dessas meninas frescas e cheias de fru-frus (como eu), mas nem por isso deixa de ser uma pessoa incrivelmente sensível e delicada (acho que ela não vai gostar muito de eu dizer isso, porque ela tenta com muita força esconder isso). Animada e divertida, há pouco menos de um ano é uma mãe incrível e preocupada, daquelas mãezonas mesmo. Que chora de susto e de alegria e compartilha isso sem vergonha, porque não tem vergonha do que sente.


E às vezes eu fico com o coração apertado de saudade daquela época quando a gente tinha como maior preocupação uma competição no próximo final de semana, o maior cansaço era depois de final de um treino muito longo, que a gente passava horas e horas dentro da piscina, e de toda aquela leveza que era nossa vida. Mas no momento seguinte também já percebo que não é bem saudade, é uma sensação gostosa de saber que vivemos tudo isso e que ainda continuamos vivendo, ainda que com caminhos paralelos, mas não separados.

Aline, você é uma das minhas amigas mais queridas e uma das pessoas mais importantes da minha vida. Não só porque nos conhecemos a tanto tempo que nem sei, mas principalmente porque você é muito especial, muito querida e muito importante pra mim. Ontem, no seu aniversário, não tive tempo de quase nada, então só pude dar um parabéns bem rápido no seu MSN e nem pude esperar a resposta. Mas mesmo que eu demore para dizer, mesmo que eu suma, mesmo que eu passe dias e dias prometendo te visitar mas sem ir mesmo, nunca esqueça que eu to aqui, ainda que às vezes de longe, torcendo todos os dias para a sua felicidade. E que você sempre pode contar comigo para o que quiser.


Te amo, beijos!!!

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Da série: textos perdidos

São Paulo, Setembro de 2010.

O dia está fechado e frio. De quando em quando uma garoa fina cai do céu e o um vento gélido entra pelas frestas da porta da sacada. A sala está fria, escura e quieta. Tão quieta que resolvo colocar uma música para que possa me distrair do silencio; não adianta. Ele é tão grande que tenho a impressão que nem música o vence. Talvez o silêncio não esteja na sala, esteja na minha alma.

Ligo a TV, nada interessante, desligo a TV. Entro na internet, a internet não funciona direito, desligo o computador. Leio um pouco, não concentro. Ligo de novo, agora a internet voltou. Troco de música. Entro no MSN. Há tanta gente conectada, mas tão pouco a se falar! Converso com um amigo. Pouca conversa, ele está ocupado. Olho pra fora. São Paulo não parece tão grande da minha sacada. O andar é baixo, então a vista limita-se a alguns poucos prédios, um restaurante que fica bem em frente (e que de lá da pra ver a maior parte do meu apartamento e vice-versa, mas que hoje está fechado) e algumas arvores. Sim, tem árvores perto da minha casa, São Paulo não é uma completa selva de pedras.

Abro a porta da sacada, enfrento o frio e o vento de frente. Fecho os olhos e sinto meu rosto gelar mais e mais. Abro os olhos, esqueço meu rosto e começo a olhar pro nada, apenas esperando o tempo passar. Nem sei dizer o que vejo. Mas sem perceber começo a pensar. Lembranças, uma após a outra, aparentemente sem nenhuma ligação. A única coisa que as liga é o fato de estarem perdidas em algum lugar do passado. Lembro de algumas risadas, de algumas lágrimas, de alguns dos momentos que fizeram sentir o coração bater mais forte. Aumento paixões. Revivo despedidas. Me sinto incrivelmente só. Volto a sentir o frio, um arrepio percorre meu corpo. Entro, fecho a sacada, me enrolo em um cobertor. Meu corpo esquenta, meu coração não. Continuo com a mesma solidão.

Troco de música. Começo a conversar com uma pessoa no MSN. Começo uma conversa que já sei onde vai terminar. E o que é pior, sei que não vai terminar e essa conversa, e essa pessoa já fez tantos estragos na minha vida que não sei como ou porque continuo sentindo tudo o que sinto. Deixe-me explicar melhor, não foi ele quem fez; ele, na verdade, nunca fez nada...eu que imagino, leio nas entrelinhas, procuro, tento, vejo. Vejo coisas que não consigo em mais nenhum lugar. Mas não passa de entrelinhas e preciso de uma coisa de verdade pra aplacar essa solidão, não posso mais viver de sonhos.

Não posso mais viver de sonhos, mas não sei viver de outro jeito.