quinta-feira, 31 de março de 2011

Procura-se alguém que goste de Jazz

Procura-se alguém que goste de Jazz. Não precisa ser bonito, não precisa ser forte. Preferencialmente deve ser mais alto que eu, mas como qualquer preferência é negociável.

Não é necessário entender Jazz, apenas gostar. Não precisa ouvir uma musica e identificar estilo, autor, tendência ou o que. Eu não sei tanto e não exijo isso, de forma alguma. Não é necessário sequer ter um jazzeiro preferido, é preciso apenas que escute de vez em quando, que vá a um bar que toque e que não ache isso chato. Que possa achar divertido passar um tempo comigo ouvindo uma musica num café, que comentemos um livro, que troquemos comentários e sugestões. O jazz é indispensável porque tenho um gosto de velha e preciso sentir que sou normal e que isso é desejável. Pede-se também que goste de musicas de Chico Buarque pelo mesmo motivo.

Aliás, com Chico Buarque eu tenho uma relação que deve ser compreendida. Quando eu cantarolo “João e Maria” é porque estou triste, “Morena de Angola” é nos meus melhores dias, “Cotidiano” é sinal de tédio. As outras talvez não tenham nenhuma associação direta com meu humor, mas estas é preciso levar em conta. Sempre. A inteligência é mais que bem-vinda. Mas pede-se que não seja uma inteligência acadêmica, que deseja explicar tudo a todos em qualquer momento; mas uma inteligência sagaz que percebe e deixa transparecer isso pelo olhar.

Ah é preciso saber olhar, muito bem. Não se engane pensando que se nasce sabendo olhar: é preciso aprender. E procura-se aquele que aprendeu a olhar de um jeito que me faça sentir notada. Desejada também é aceitável, mas antes disso tem que ser notada, sentir que apesar de ter mulheres mais bonitas e perfeitas que eu, é pra mim que se escolha olhar. É preciso ter um brilho no olhar quando me vê. É preciso que, de vez em quando, eu perceba que este olhar está me procurando, quando eu estou longe. Mas não pra me controlar, portanto quando meus olhos cruzarem com este olhar que me busque troquemos sorrisos e voltemos às nossas ocupações. Voltemos, entretanto, com a certeza de ter alguém.

Também é preciso que saiba ler meus olhares e perceber quando estou pedindo colo ou querendo bater. E para isso é preciso perceber além dos meus sorrisos. É necessário que tenha um abraço protetor, daqueles que nos fazem esquecer todos os problemas, na verdade, todo o mundo lá fora. É preciso secar minhas lagrimas, sem insistir quando eu não quiser dizer nada. E entender que meus sorrisos e minhas risadas muitas vezes estão juntas - mas isso não significa que não esteja realmente sofrendo. Meus sorrisos às vezes são minha proteção, por isso é preciso ir além deles.

Pede-se que tenha um toque delicado, mas seguro. Segurança é necessária para que eu possa sentir-me como num porto amigo quando estiver no meio de uma tempestade. E delicadeza indispensável para que eu não me sinta como apenas um objeto. Esta segurança também é necessária para entender que eu gosto de pagar minhas contas, que eu sei trocar lâmpadas e mato baratas com um pouco de nojo, mas sem escândalos. E preciso ter alguém que entenda que estou com ele não para isso, mas porque gosto da companhia, me sinto bem com a presença. É necessária a segurança para entender isso: que não estamos juntos porque eu preciso, mas porque eu quero.

É preciso sorrir. Não precisa ser sempre ou pra tudo, mas ao menos de vez em quando é necessário. Pode ser só pra mim, mas se for ele tem que ser o sorriso mais intenso do mundo. Bom-humor é apenas desejável, mas mau-humor crônico, rabugice e cara feia desclassificam. Não é preciso ter dinheiro, me levar a lugares caros ou me dar presentes. Não é preciso colar em mim nem me contar todos os passos. É incentivado a ter uma vida independente da minha, com seus amigos e seus programas, aos quais eu só comparecerei em ocasiões especiais. Assim como terei meus amigos e meus programas: não seremos grudados, cada um terá seu próprio Orkut, não teremos a senha dos e-mails, não espionaremos os celulares. Construiremos uma relação que tenha confiança, embora algumas demonstrações de ciúme podem ocorrer, de ambas as partes. Demonstrações, não cenas deploráveis.

É preciso entender que eu gosto de poesia e de vez em quando é aconselhável que me escreva alguma em um pedaço de papel, ou me mande por e-mail. E que por mais que eu diga o contrário eu sou uma romântica inveterada que gosta de flor (que pode ser tirada de uma arvore e entregue na hora), de declarações de amor e de carinho, de surpresas. Outra necessidade é a paciência e a compreensão. É preciso compreender que eu tenho certo receio de relacionamentos então é preciso insistir, ir à fundo, porque as vezes fujo do que mais desejo. Por isso é preciso não desistir quando eu parecer ausente: na verdade é quando eu vou estar mais atenta, esperando. É preciso, por isso, ouvir meus medos absurdos e pode até discordar, achá-los idiotas ou sem sentido nenhum, mas em hipótese alguma pode-se dizer “não chore” ou “deixe isso pra lá”. Mas o silêncio, quando acompanhado de um abraço confortante daqueles que disse acima, pode ser recompensado. Fazer com que eu me sinta protegida, em qualquer situação, será recompensado.

Na verdade, tudo é negociável. Algumas coisas eu posso ensinar, outras eu posso aprender. Até desisto de algumas delas e elas não são únicas, são bem vindas diferentes características, gostos, vontades. Mas o Jazz... é indispensável gostar.

5 comentários:

  1. nossa coisas de Livia!!! perfeito.. me li no seu texto! adorei.. parabens!

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  2. pessoinha implicante vc hein...e exigente...hahaha

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  3. Obrigada Lika!!!
    E Aline, vc me conhece...eu lá sou simples? Complicação pura! hauhauahuahuah

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  4. Gata, o requisito do Jazz é realmente importante, mas acho que mais ainda é você abrir este seu coraçãozinho, enquanto ele continuar fechado, nunca perceberá o olhar te notando, a presença interessada, o carinho e tudo o mais que o "tão temido" relacionamento podem te trazer! Vc não precisa ser sempre forte!!! Mas o jazzzzz... Ju

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  5. ahuahuahuah
    Pois é amiga, isso eu também preciso aprender...mas aos poucos eu vou abrindo, pode deixar! huahuahuahuah
    Beijos

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