terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Santa Sofia de La Piedad.

Acho que sou uma das poucas pessoas que se lembram com clareza dessa personagem do livro “Cem anos de Solidão”, de Gabriel García Marquez. O fato dessa personagem não ser lembrada com freqüência é provavelmente mais um dos incontáveis indícios da genialidade deste autor. Porque Santa Sofia de la Piedad ‘tinha a rara virtude de não existir por completo, a não ser no momento oportuno’.

Santa Sofia era, pela descrição de Gabo, feia. Comum, no mínimo. Ela poucas vezes é citada no livro, a maior parte delas acompanhada pela ressalva de que ela não existia por completo, a menos quando era necessário.

Às vezes tenho inveja desta descrição. Mais que isso, de ser assim.

Porque eu me dôo por inteira, em tudo. Não sei me envolver pela metade, amar sem ser por inteiro, viver sem paixão, fazer qualquer coisa simplesmente por fazer. Existo com intensidade. Adoro isso em mim, mesmo. Mas às vezes...cansa.

Porque quando eu estou muito feliz, acho maravilhoso ficar cantando gritando dentro do carro, e dançar feito louca sozinha no meu quarto, e fazer caretas, e conversar, e abraçar, e fazer outras coisas que, aos olhos de grande parte das pessoas, pareceria, na melhor das hipóteses, loucura.

E quando eu estou muito triste tenho a exata sensação de que existe um mundo inteiro nas minhas costas. Nesses momentos intensidade cansa, mas ainda não é quando tenho vontade de ser Santa Sofia. Porque dói, e eu choro até não ter mais força, mas depois eu levanto e aos poucos eu vou me reerguendo. Às vezes, também canto feito uma louca, gritando. Às vezes fico cantando baixinho as músicas mais tristes que me lembro e chorando sozinha, 'até ter dó de mim'. Às vezes cozinho até cansar. Às vezes só me deixo jogada em um canto esperando juntar forças. E elas podem demorar...mas sempre voltam.

Eu tenho vontade de ser Santa Sofia em momentos como eu estou vivendo agora. De espera. Quando não se tem o que fazer e até os sentimentos vão ficando escassos, e a intensidade vai se esvaindo. E eu tento, tenho momentos que coloco uma música alta, procuro nas minhas lembranças motivos pra ter intensidade, e tenho até alguns poucos instantes... mas a maior parte do tempo é um tédio, uma angustia, um nada. Eu sei, que daqui a pouco as coisas vão se ajeitar. Eu logo vou voltar àquela correria, que eu tanto amo. Mas até chegar lá... tenho que esperar. E aí que me vem à cabeça a Santa Sofia. Porque nesses momentos...me dá vontade de não existir, de pular essa fase e chegar logo onde as coisas realmente acontecem!
Como passar os dias assim? Invejando Santa Sofia de la Piedad, que existia somente quando era estritamente necessário. E, para mim...só é necessário quando é verdadeiro, quando é forte, quando é intenso.

2 comentários:

  1. Tempo de Dôrmencia....

    http://www.seednews.inf.br/portugues/seed94/artigocapa94.shtml

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  2. Sr(a) Anônimo, obrigada pelo comentário...realmente gostei dessa explicação. Embora tenha ficado curiosa pra saber quem é você...ahuahauha

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