sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Um ano

- Achei que você não fosse ligar.
- Foi o combinado. Um ano. Não importa o que acontecesse, eu te ligaria. Mas achei que você não fosse atender.
- Foi o que combinamos. Um ano, não importa o que sentiríamos. Um ano e eu atenderia.
- Não achei que fosse parecer tanto tempo. Mas um ano é tempo demais.
- Os primeiro meses foram mais difíceis. Eu pegava no telefone pra te ligar, contava os dias, parecia tão distante. Mas chegou uma hora que acostumei com a ausência. Foi aí que pensei que você teria esquecido.
- Também achei mais difícil no começo. Tive vontade de ligar e cancelar o trato. Tive vontade de tocar a sua campainha num dia de chuva, ensopado até a alma e pedir abrigo na sua casa, na sua vida. Chovia muito, era dezembro. Essa vontade sempre passava na minha cabeça.
- Vi muito a chuva cair pensando em você. Aí tocava o telefone e era engano. Não importa quem era, mas não era você, então sempre pensava que era engano.
- Tive vontade de te ligar e desejar feliz natal. Eu sempre amoleço no natal.
- Eu queria te desejar feliz ano novo. Aquelas coisas de esperanças renovadas, segundas chances, recomeços. Podia ser pra gente.
- Mas veio Janeiro.
- Veio fevereiro.
- Fui acostumando. Fui vivendo.
- Um ano é muito tempo. Vendo assim, agora que passou.
- Eu mudei. Mudei de cidade, de emprego, criei um rumo. Tenho planos.
- Eu continuei. Na mesma cidade, na mesma casa. Mas a vida agora é outra. O emprego também. Os planos, foram e voltaram umas dez vezes diferentes.
- Eu to namorando. Mas quero terminar.
- Eu to sozinha. Mas to apaixonada. Pela segunda vez nesse ano.
- Sempre fui me deixando levar, mesmo sem querer muito.
- Sempre fui passional. Apaixono-me por tudo e por nada.
- Sinto saudades. Queria viver aquilo de novo.
- Sinto uma paz, uma leveza, acho que isso que é felicidade.
- Sempre pensava em você.
- Pensei que nunca te esqueceria. Mas percebi que pensava, mas não sentia.
- Cortei o cabelo.
- Fiz uma tatuagem.
- Tive um sobrinho
- Foi um ano sem velórios, e com casamentos. O que não significa que tenha sido bom.
-Levei tombos grandes.
- Mas levantei. No fim das contas a gente sempre levanta.
- Trabalhei muito, quase não sai, nem me diverti.
- Trabalhei muito, saí muito, me perdi. Mas sempre me divirto.
- Vi um filme que você ia gostar.
- Li um livro que você ia amar.
- Conheci gente nova. Ninguém interessante.
- Conheci gente que em pouco tempo já mudou a minha vida.
- Resolvi aqueles problemas.
- Criei novos problemas. Nada saiu como o esperado, mas tudo foi se arrumando.
- Não estou mais brigando com Deus.
- Não estou mais acreditando em Deus.
- Se pudesse, faria tudo diferente. Sei que fiz tudo errado.
- Já me arrependi. Passou.
- E agora?
- Um ano é muito tempo.
- Tudo mudou.
- Não tem volta.
- Desligamos?
- Desligamos. E adeus. Dessa vez, para sempre.
- Ou até a próxima esquina. Adeus.