sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Aprendi

Certa vez li que devíamos, todos os dias, pensar no que aprendemos de novo. Acho exagero, todos os dias. Mas, pensando nisso resolvi lembrar-me do que aprendi no ano que passou – ainda que ano com um certo atrasado, já que Janeiro já está acabando.

Engraçado como, ao sentar para escrever tudo o que aprendi neste ano que já se encerrou, tudo parece tão longe e dissipado. Não que eu não tenho aprendido nada; mas é que olhando para quem eu sou hoje eu vejo a concretização de dezenas de coisas que têm se delineado há tanto tempo, e outras que eu não reconheceria em nenhum olhar ao passado. Coisas que parece que surgiram em mim e me resolveram, serviram para cobrir as brechas que existem em mim. Coisas que ampliaram os meus limites.

Dando uma primeira olhada, rápida, tive a impressão que no ano que se encerrou aprendi apenas a esperar e esperar e a esperar. Mas foi mais que isso. Aprendi, sim, a esperar. Mas essa espera me ensinou também a fazer escolhas e tomar decisões. Essa espera me ensinou a, novamente, olhar dentro de mim e respeitar o que vejo, mesmo que não concorde.

E o que vi foi uma pessoa que amadureceu mas que ainda sofre e chora pelos mesmos motivos e que já há muito sabe que algumas dores são para sempre. Uma pessoa que aprendeu artimanhas para disfarçar a dor, e com isso aprendeu a cozinhar melhor do que em todos os anos anteriores.

Aprendi como é não estar rodeado por pessoas que já conhecem o seu trabalho e sabem do que você é capaz. Isso faz com que os caminhos sejam mais difíceis, mais tortuosos e repletos de nãos. Mas também aprendi que isso faz com que fique mais claro em nossa mente o que queremos.

Aprendi que não é fácil ir em busca dos sonhos, principalmente quando não se acredita muito neles. Mas que, quando a gente começa a acreditar é preciso bater o pé e até arrumar algumas confusões pra manter-se em busca dele. E que às vezes é preciso abrir mão de certas coisas e fazer escolhas difíceis, principalmente quando se está mais acostumado a viver o presente do que sonhar com o futuro.

Aprendi a sonhar com o futuro sem deixar de viver o presente.

Aprendi que fazer planos é um belo de um passatempo e muitas vezes não passa disso. Mas que é necessário fazê-lo, desde que se tenha em mente que não são círculos fechados e sem possibilidade de alteração. É preciso fazer projetos, e é preciso ser suficientemente corajoso para abrir mão deles e estar disposto a alterá-los.

Aprendi muito com a indecisão alheia, de como é preciso respeitar não só os próprios limites, mas também os dos outros. Aprendi que quando a gente menos espera as coisas surpreendem-nos. Para o bem e para o mal. E que, na verdade, é preciso estar distraído e esperando absolutamente nada. Porque quando eu esperava convites, vieram silêncios. Quando eu esperava silêncio, vieram palavras. Quando eu esperava um sim, veio um não. Quando eu esperava respostas, vieram perguntas. Quando eu tinha certeza, construíram-se dúvidas. E quando eu não esperava nada, vieram frases, explicações, propostas, elogios, diversão.

Aprendi que às vezes é preciso seguir os próprios conselhos. E nunca o ‘faça o que eu digo, não o que eu faço’ fez tanto sentido.

Aprendi que às vezes é preciso silenciar, mesmo quando queremos anunciar aos quatro ventos o que enche o nosso coração.

Aprendi que às vezes é preciso seguir o nosso coração mesmo quando a razão – e todo mundo que esta em volta – diz o contrário. Aprendi que isso não é fácil. Aprendi que isso dói, mas que a dor as vezes é melhor que a dúvida.

Aprendi a perdoar.

Aprendi a não esperar que os outros sejam o que a gente quer que eles sejam.

Aprendi que não se pode controlar o que se sente. E aprendi muito sobre mim, sobre meus sentimentos. Percebi que de vez em quando achamos que um sentimento está enterrado, mas então nos percebemos caindo nas mesmas armadilhas preparadas por nós mesmos.

Aprendi que é preciso se deixar pegar pelas armadilhas. Mas que não podemos nos aprisionar permanentemente nelas.

Aprendi que de vez em quando um sentimento acaba, mas não tem nada pra colocar no lugar então a gente faz de conta que ele continua, como se a gente emprestasse alguma coisa pra alguém até que o verdadeiro dono venha e assuma.

Aprendi que amizades são muito mais importantes do que qualquer coisa. E que algumas são eternas, mesmo com a distância, mesmo com a ausência, mesmo com as diferenças.

Aprendi que esquecer problemas não os resolve; mas os aumenta.

Aprendi a tomar banho de chuva como uma forma de voltar à infância perdida e nesse banho encontrar um silêncio confortante, quase um vazio.

Aprendi que ser responsável por outras pessoas não significa que você tem que deixar de se responsabilizar por si mesmo. E que é difícil, mas necessário, equilibrar as duas coisas.

Aprendi a viver com saudade. Com muita saudade. E a me deixar quieta, em silencio, sofrendo, sempre que necessário. E depois levantar. E continuar.

Aprendi que não sou mais criança, mas que ainda me comporto como tal. E que é preciso mudar e assumir minha vida, e não ficar tentando e esperando que os outros o façam por mim.

Aprendi que tenho o direito de ser feliz. E nos últimos dias me vejo me reacostumando a isso e ainda me soa um pouco estranho, dizer assim, que apesar de tudo eu sou feliz. Mas é em busca desta felicidade que darei meus próximos passos.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Santa Sofia de La Piedad.

Acho que sou uma das poucas pessoas que se lembram com clareza dessa personagem do livro “Cem anos de Solidão”, de Gabriel García Marquez. O fato dessa personagem não ser lembrada com freqüência é provavelmente mais um dos incontáveis indícios da genialidade deste autor. Porque Santa Sofia de la Piedad ‘tinha a rara virtude de não existir por completo, a não ser no momento oportuno’.

Santa Sofia era, pela descrição de Gabo, feia. Comum, no mínimo. Ela poucas vezes é citada no livro, a maior parte delas acompanhada pela ressalva de que ela não existia por completo, a menos quando era necessário.

Às vezes tenho inveja desta descrição. Mais que isso, de ser assim.

Porque eu me dôo por inteira, em tudo. Não sei me envolver pela metade, amar sem ser por inteiro, viver sem paixão, fazer qualquer coisa simplesmente por fazer. Existo com intensidade. Adoro isso em mim, mesmo. Mas às vezes...cansa.

Porque quando eu estou muito feliz, acho maravilhoso ficar cantando gritando dentro do carro, e dançar feito louca sozinha no meu quarto, e fazer caretas, e conversar, e abraçar, e fazer outras coisas que, aos olhos de grande parte das pessoas, pareceria, na melhor das hipóteses, loucura.

E quando eu estou muito triste tenho a exata sensação de que existe um mundo inteiro nas minhas costas. Nesses momentos intensidade cansa, mas ainda não é quando tenho vontade de ser Santa Sofia. Porque dói, e eu choro até não ter mais força, mas depois eu levanto e aos poucos eu vou me reerguendo. Às vezes, também canto feito uma louca, gritando. Às vezes fico cantando baixinho as músicas mais tristes que me lembro e chorando sozinha, 'até ter dó de mim'. Às vezes cozinho até cansar. Às vezes só me deixo jogada em um canto esperando juntar forças. E elas podem demorar...mas sempre voltam.

Eu tenho vontade de ser Santa Sofia em momentos como eu estou vivendo agora. De espera. Quando não se tem o que fazer e até os sentimentos vão ficando escassos, e a intensidade vai se esvaindo. E eu tento, tenho momentos que coloco uma música alta, procuro nas minhas lembranças motivos pra ter intensidade, e tenho até alguns poucos instantes... mas a maior parte do tempo é um tédio, uma angustia, um nada. Eu sei, que daqui a pouco as coisas vão se ajeitar. Eu logo vou voltar àquela correria, que eu tanto amo. Mas até chegar lá... tenho que esperar. E aí que me vem à cabeça a Santa Sofia. Porque nesses momentos...me dá vontade de não existir, de pular essa fase e chegar logo onde as coisas realmente acontecem!
Como passar os dias assim? Invejando Santa Sofia de la Piedad, que existia somente quando era estritamente necessário. E, para mim...só é necessário quando é verdadeiro, quando é forte, quando é intenso.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Palavras

2010. Planos. Trabalho. Dissertação. Festa. Amigos. Surpresas. Tédio. Dissertação. Saudades. Paixonites. Ilusões. Presentes. Alta. Medos. Projetos feitos, projetos desfeitos, projetos refeitos. Dores. Raiva. Decepção. Amizades novas e amizades renovadas. Blog. Orientação. Dissertação, dissertação, dissertação. Frases de efeito. Copa. Beijos. Músicas. Poesia. Livros. Saudades. Dissertação. Cem anos de Solidão. Cozinhar. Conselhos. Melancolia. Tristeza. Alegria. Gargalhadas. Tatuagem. Márquez. Encontros. Desencontros. Casamentos. Festas. Porres. Vergonha. Decisão. Esperanças. Crises. Tombos. Neruda. Depósito. São Paulo. Perder-se. Museus. Bienal. Silêncio. Chuva. Solidão. Encontrar-se. Conversas. Coração disparado. Qualificação. Congresso. Apresentação. Discussões. Encontros. Envolvimento. Encantamento. Saudades. Dissertação. Francês. Longas conversas. Indiretas. Diretas. Timidez. Irmãos e primo. Diversão. Cozinhar. Cinema. Confusão. Emoções. Saudade. Promessas. Praia. Proposta. Campo Grande. Depósito. Nova Alvorada. Entrevista. Pergunta. Silêncio. Lágrimas. Saudade. Dor. Vinicius de Moraes. Desentendimento. Esquecer. Amigos. Recusa. Nova proposta. Teodoro Sampaio. Espera. Dúvidas. Nova recusa. Família incrível. Defesa. Elogios. Abraços. Porre. Comemoração. Luzes de Natal. Solicitação. Dúvida. Saudades diferentes. Amigos incríveis. Pergunta. Resposta. Surpresa. Encontro. Tédio. Sorrisos. Silêncios. Supermercado. Aeroporto. Notícias ruins. Surpreendentemente divertido. Fim.

2011. Esperança. Mudança. Começo.