quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Pequena oração para o final do mestrado

Não costumo fazer orações. Não para um Deus. Talvez essa informação seja surpreendente para alguns de vocês que me conhecem, mas para a grande maioria trata-se de uma afirmação desnecessária, óbvia. Não rezo para um Deus porque já há algum tempo penso que, caso ele exista, prefiro que se ocupe de situações mais graves e urgentes do que as minhas. Não me sinto à vontade ocupando Deus com meus problemas, que bem ou mal posso solucionar [ou ao menos conviver com eles] enquanto há pessoas morrendo de fome, uma bela de uma confusão no Oriente Médio, guerras, atrocidades, monstruosidades. Também não rezo para agradecer porque não sou modesta a ponto de guiar minha vida, tomar minhas decisões, seguir os meus caminhos e, nas poucas vezes em que acerto, dizer que a responsabilidade é de outra pessoa. Além disso, não consigo conceber um Deus tão infantil e mimado a ponto de precisar sempre que as pessoas lhe elogiem e prestem graças. Pra mim isso parece coisa de gente insegura, que precisa que tudo seja elogiado, que precisa ser paparicado. Depois de criar tudo o que dizem que ele criou ser inseguro não combina muito.

Mas enfim, estou dizendo isso porque hoje me deu vontade de fazer uma oração. Mas, não sou tão confusa assim, não é para um Deus. Acho, realmente, que todos deveríamos ter as nossas orações. Que fazemos para nós mesmos. Pedidos, promessas e, principalmente, a fé. Acreditar que está em nós a possibilidade de transformar a nossa vida e a dos outros; acreditar que é possível que nós façamos a diferença. Ter fé em nós e nas outras pessoas. E a vontade de fazer uma oração é para fazer um pedido a mim mesma, com toda a minha fé. É bem verdade que crer em mim não é algo que costumo fazer; pelo contrário. Mas as orações não são justamente para isso, para que não percamos e, mais que isso, para que aumentemos a nossa fé?
Por isso, uma oração. Hoje, que eu encerrei uma etapa da minha vida, uma oração que me dê força e uma direção para os próximos passos. É essa a minha oração, hoje. É um pouco ousada, talvez até prepotente. Mas é uma oração que eu faço com toda a minha fé, com todas as minhas forças:


Que hoje, ao terminar o mestrado, eu tenha conquistado mais que um título; que tenha sido mais uma etapa em uma formação comprometida com a mudança. Que minhas palavras não sejam vazias, que o que eu escrevi não tenham sido apenas frases de efeito, mas que eu realmente as use em minha atuação. Que eu não desista e que eu não pense que o melhor é que as coisas permaneçam como estão. Que quando minhas forças estiverem acabando eu tenha onde e porque recarregá-las. Que eu tenha sempre muita alegria, mas que ela não me impeça de ver a dor do outro e que vendo eu não a ignore. Que eu não me cale frente a práticas ruins, que eu não deixe de escutar os problemas dos outros e tentar buscar soluções. Que eu saiba conviver com e respeitar as diferenças. Enfim, que o conhecimento que eu produzi não fique trancado em um armário, mas que eu consiga propagá-lo e materializá-lo em práticas; e que eu nunca pense que o meu conhecimento atual é suficiente. Pelo contrário, que eu continue sendo movida por indagações e que esta sensação de precisar de explicações e respostas permaneça e faça de mim uma profissional que está sempre querendo e tentando melhorar.
E que assim seja,
Amém.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Sobre antigos e novos capítulos.

Hoje eu fui à casa em que minha avó morava, antes de vir morar aqui em casa. E, engraçado, é uma casa cheia de lembranças e que acompanhou toda a minha vida. Bem, a história é mais ou menos assim: a casa é do meu tio (por parte de mãe), e minha avó Dorothy (materna) morava lá. Quando ela morreu, meu tio emprestou a casa pra meus avós João e Zeferina (paternos); isso foi entre 1994 e 1995. Em 1996 meu avô morreu, e minha avó continuou lá. Mas há alguns meses resolvemos que minha avó não poderia continuar sozinha e que seria melhor ela vir morar conosco (e vocês sabem que isso é um belo de um eufemismo). Mas, isso feito, meu tio vendeu a casa; e fui lá com ele para ver as últimas coisas que tinham que tirar, o que ia fazer e tal. Foi uma sensação muito estranha. Primeiro, porque a casa já tinha ares de abandono, porque com a mudança cresceu o mato e a sujeira se espalhou. E tinha aquele ar de passado, sabe?! Uma sensação de encerrar um capítulo da minha vida.

Algumas das minhas lembranças mais antigas são daquela casa. Algumas das mais queridas também. Como quando minha avó Dorothy fazia pastel aos domingos. E eu, meus irmãos e primos inventávamos refrigerantes, misturando dois ou mais sabores diferentes (e dávamos nomes, do tipo ‘Sprinta’, quando era Sprite com Fanta. E ainda tomávamos isso). Quando dormíamos lá, e acordávamos cedíssimo querendo jogar queimada. Éramos cinco: eu, o Igor, a Elise, o Danilo e o Bruno. Ainda hoje nós cinco somos unidos; acho que isso vem dessa época, quando ainda nos encontrávamos todos os finais de semana e nos divertíamos muito, simplesmente sendo crianças. Lembro de colher quebra-pedra pra minha avó tomar chimarrão. Dela tomando chimarrão com minha mãe, das duas conversando na varanda enquanto assistia televisão na sala.

A primeira vez que cozinhei foi lá – minha avó me ensinou a fazer arroz. E em um aniversário meu que comemorei lá eu ganhei dos meus tios uma máquina de costura de brinquedo que usei acho que por uns cinco anos, pra fazer roupas pras minhas Barbies (coitadas, minhas Barbies sofreram porque eu sempre fui uma péssima estilista!) Lembro que minha avó dizia que eu tinha um coração de ouro. E que a gente sempre andava de bicicleta no pátio da frente; eu era uma criança com uma imaginação muito fértil e uma vez eu e minha irmã éramos princesas indo pra um baile, e então eu passei numa possa de água com a bicicleta. Não foi uma gota em mim; mas quando minha avó se deu conta eu estava dentro de casa, penteando meu cabelo; ela me perguntou o que eu tava fazendo e eu respondi que o cavalo tinha me derrubado em uma possa de lama e eu tinha que me arrumar de novo pro baile. Lembro da risada dela nesse dia. E que ela usava dentadura e de vez em quando tirava metade pra fora e ficava fazendo careta. Era horrível.

Lá tinham 3 árvores: uma goiabeira, uma mangueira e um pé de fruta do conde. As duas primeiras ficavam no fundo, e a última na frente; minha avó dizia que a goiabeira era da minha irmã, a mangueira do meu irmão, e o pé de conde era meu. Eu odeio fruta do conde. Mas adorava a idéia da única árvore da frente ser minha, eu dizia que a frente toda era e então eu podia decidir quem entrava e quem não entrava. Eu subia na árvore e ficava lá um tempão, que provavelmente não passava de alguns minutos, mas como eu era criança pareciam horas e mais horas. Minha avó tinha um amigo, o Eduardo. Ele dizia que ia se casar com ela e a gente ia ter que chamá-lo de vô Eduardo. E ele parecia ser tão incrivelmente bravo e tinha uma chinela de couro que ameaçava usá-la pra bater na gente (principalmente no meu irmão). Nós cinco inventávamos planos mirabolantes pra impedir o casamento.

Aí, minha avó morreu. Lembro da primeira vez que fui lá depois, acho que no dia seguinte ou após alguns poucos dias, com minha irmã e minha mãe. Lembro da Paquita, a cadela dela, ficar correndo pela casa e chorando. E depois, quando começamos a arrumar a casa pra meus avós irem pra lá. Pintando, tirando a bagunça do quartinho, desfazendo o canil dos cachorros. Pendurando um balanço de pneu que tinha na casa antiga dos meus avós. E depois, quando mudaram pra lá, eu passava todas as tardes naquela casa. Foi um período difícil esse. Acostumar com a morte da minha avó, com a mudança de escola e de período (foi quando comecei a estudar de manhã), com alguns outros problemas. E, um tempo depois, com a adolescência: o começo dela, algumas das tardes repletas de sonhos e medos e dramas foram naquela casa. Foi lá que ganhei meu primeiro sutiã. Lembro bem do dia, embora seja demais detalhá-lo aqui. Também foi lá que meu avô morreu, ao lado do meu pai e da minha avó.

E por muito tempo eu ainda continuava a subir nas árvores e me esconder. Era uma sensação maravilhosa, subir o mais alto que eu conseguia e ficar olhando por cima das casas. Uma sensação de liberdade. Mas, a essa altura, só tinha a mangueira; minha avó resolveu que queria cortar as outras árvores. Há alguns poucos anos ela conseguiu que cortasse também a mangueira, mas aí eu já não subia em árvores – embora ainda assim tenha doído um pouco vê-la derrotada, espalhada por todo o quintal, reduzida a um monte de galhos e folhas.

Depois de um tempo parei de passar as tardes lá; mas foi lá que eu arrumei uma mesa com todos os livros e apostilas para estudar pro vestibular, o que fiz por uma ou duas semanas. Diversas vezes me refugiava lá, pra estudar, quando já estava na faculdade e até no mestrado – eu gostava do silêncio. E o engraçado é que se antes da vó Dorothy morrer aquela casa simbolizava diversão, ela passou a simbolizar solidão; o que se intensificou quando meu avô morreu. Uma solidão nem sempre triste, é verdade. Às vezes era puro isolamento. Às vezes nostalgia.

Hoje sei cozinhar mais do que arroz, não uso nenhuma máquina de costurar, bebo coisas mais estranhas do que refrigerantes misturados. Já faz um tempo que não subo em árvores, embora ainda tenha aquela mesma sensação quando estou em um lugar alto qualquer. Já sei que o ‘vô’ Eduardo é uma pessoa maravilhosa que se divertida brincando de ser bravo conosco. Compro meus próprios sutiãs, acostumei a estudar sem precisar de silêncio, aprendi que não se precisa de um lugar pra se cultivar a solidão. Passei pela adolescência e hoje acho que foi mais fácil do que está sendo se tornar adulta. Tenho outros sonhos, medos e ilusões. Perdi outras pessoas e percebi que não se acostuma com a morte, se aprende a viver com a ausência. E foi com aperto no coração fui lá ontem e me deparei com toda aquela poeira e abandono. Mas sabe, não foi uma sensação ruim. Quer dizer, é sempre difícil ver como as coisas mudam; mas nada do que vivi naquela casa vai ficar naquela casa. Está tudo aqui, dentro de mim. Tudo o que vivi lá fez de mim o que sou. E se a venda dessa casa é o fim de um capítulo...também é o início de outro. E sei que há ainda muitas lembranças a se construir, em outras casas, em outros lugares - mas sempre carregando essa nostalgia, essa saudade. Todos os capítulos da minha vida são repletos destes sentimentos.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Minha mais nova paixão






Digam-me: tem como não se apaixonar por essa coisa linda? Essa é a Vitória, minha sobrinha emprestada, filha da Aline. E só por ela eu coloco na internet uma foto que eu estou toda descabelada.

Gente, vocês precisam ver. Até eu, que sou toda desajeitada, peguei no colo e ela dormiu tão quietinha e teve uma hora que ela até deu um sorriso lindo [e, caros amigos que estudaram desenvolvimento, foi sim um sorriso. Não foi um espasmo muscular, mesmo ela tendo só dois meses. Só bebês que não conhecemos tem espasmos musculares, os que a gente conhece sorriem de verdade!]. Na hora de tirar foto ela fez essa carinha de brava, mas ela gostou de mim sim, tá?!

Sabe o que é o melhor? A Aline mãe. Acho que no fundo ninguém no mundo imaginou a Aline mãe... mas ela é uma mãe incrível, e vai ser cada vez mais. E a tia aqui, mesmo sendo desligada, desajeitada e um pouco ausente demais, vai estar sempre junto dessa coisa fofa!

E Line, ela não é só um fragmento de gente...ela é tudo de mais lindo que existe. E ela vai ser muito feliz, só de ter uma mãezona como você ela já é muito sortuda!!!!

Amo demais vocês duas e qualquer coisa não precisa nem gritar: é só falar que eu to aqui pro que precisar!!!!!

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Só um texto...

Era uma vez um menino muito maluquinho.

[Peraí. Essa história já foi contada. Por uma pessoa com muito mais propriedade que eu. E, afinal de contas, a pessoa de quem eu quero falar nem é assim, maluquinho. Então deixa eu pensar em outra forma de começar...já sei!]

Algumas pessoas entram na nossa vida nós não sabemos exatamente quando, ou como. E por entrar na nossa vida eu não digo conhecer, porque tem pessoas que a gente conhece desde sempre e não estão exatamente na nossa vida, elas são como figurantes, qualquer coisa assim. As que entram são as que participam, realmente, da vida. Que sabem dos seus dilemas, das suas dificuldades, dos seus medos. Que compartilham as alegrias, as paixões.

[Tá... isso tá muito geral. Preciso de uma coisa mais específica. Este não é um texto qualquer, daqueles que qualquer pessoa pode se reconhecer nele. É sobre uma pessoa específica. Então, vamos tentar novamente.]

Cara, o Jeferson. Ele é uma pessoa incrível. Mas sabe aquela história de que aparência não é essência? Isso é exatamente ele. Porque na aparência ele é divertido, animado, talvez até um pouco inconseqüente... mas na essência não é [bem assim]. Quer dizer, ele é divertido, mas não é só isso. Ele une as pessoas que estão próximas a ele. Não organiza festas pela festa, mas porque a todo o momento ele tenta demonstrar que não se é sozinho e que é preciso celebrar, sempre. E ele faz convites ótimos, que são um evento à parte. Ele é animado, mas mais do que isso: ele sabe animar. Só com ele um dia cinza e praticamente perdido se transforma em uma das maiores loucuras que fiz na minha vida, um dia divertidíssimo! Inconseqüente ele não é, de forma alguma. Mas parece ser assim porque ele se entrega, de uma forma que quisera eu ser igual. Porque pra ele não existe meio termo: se for pra amar, é com todo o coração; se for pra ter raiva, é com todos os músculos; se for pra chorar...aí a gente pega um garrafa de Vodka porque também ninguém merece ficar chorando o tempo todo!

Mas mais do que isso, ele é também companheiro, compreensível, corre em busca dos sonhos, enfrenta os problemas de frente, te segura quando você tá caindo. Ser amiga dele é ser amiga de todos os amigos dele, e de quebra ganhar uma família e dois cachorros! Ser amiga dele é ter com quem contar, mesmo ele estando em um lugar que, desconfio eu, não existe de verdade. (E ele tá nesse lugar porque é também um excelente profissional, preocupado de verdade em fazer a diferença e em não ser mais um.) Ser amiga dele é ter alguém pra ligar e dizer: Fiz besteira. Me salva? Além disso, ele é um grande conselheiro amoroso. Com conselhos que variam entre “se joga!” e “cai fora que ele tá jogando com você”, ele participa ativamente da minha vida afetiva. Ele participa ativamente de todas as esferas da minha vida.

Por isso, e milhões de outras coisas, o Jef é mais do que um amigo. Todos os dias sinto falta dele vir aqui em casa, tomar café e comer bolo de banana. Aliás, outra coisa incrível: ele já teve que comer cada gororoba que eu fiz...e continua arriscando, sempre!

As coisas às vezes ficam mais difíceis do que a gente gostaria, amigo. Mas não desanime! Você é uma pessoa incrível, maravilhosa e que ainda tem muito pra ganhar, muitas felicidades pra viver, muitos desafios a vencer. O problema é que no caminho você também vai encontrar algumas pedras... mas pensa assim: se o Carlos Drummond achou uma pedra e fez um poema que se transformou em um dos marcos da poesia moderna brasileira, você pode pegar as suas e construir uma nova teoria psicológica!

Esse é só um texto. Eu nunca poderia com um texto explicar tudo o que você representa. Mas Jef, nunca, nunca esqueça uma coisa: pode passar milhares de pessoas na minha vida, acontecerem dezenas de coisas com nós dois... eu sempre vou ser your girl!!!!

Te amo, beijos,

Lívia